Falta de cuidado com a saúde bucal pode repercutir em outras áreas do organismo

Lorena Lázaro

No dia Nacional do Dentista, celebrado em 25 de outubro, profissional lembra que as consequências da falta de saúde bucal podem afetar todo o organismo. Goianos ficam abaixo da média nacional do índice de comparecimento ao dentista, aponta o IBGE

Quando se fala em higiene bucal, logo vem à mente problemas como cáries, mau hálito, gengivite, tártaro e outras questões que atingem os dentes e gengivas. No entanto, as consequências de um cuidado inadequado com essa parte do corpo pode gerar outros problemas como enxaqueca, provocada por má formação dos ossos da face não tratada, e algumas infecções que, se agravadas, podem ocasionar problemas de coração, parto prematuro,  impotência sexual e até mesmo câncer. 

A Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019 e divulgada no início de setembro, mostrou que menos da metade dos brasileiros (49,4%%) se consultou com um dentista nos 12 meses anteriores.  Em Goiás, o índice é ainda menor, só 46,5%; uma demonstração de que a atenção com a saúde bucal ainda é insipiente, considerando que profissionais da área recomendam uma visita a cada seis meses ao consultório para assegurar a profilaxia da boca. 

Para a cirurgiã dentista e diretora da Venko Inteligência Odontológica,  Carla Rockenbach, o que se percebe é que os cuidados com os dentes e com a boca acabam sendo negligenciados quando não há dores ou inflamações incômodas. Ela lembra que, embora pesquisas apontem que a maioria dos brasileiros já escovem os dentes pelo menos duas vezes ao dia, e que isso seja um hábito importante, ele não é suficiente. “Existem problemas que aparentemente são estéticos, como o desalinhamento e a mordida cruzada que podem ser a causa de enxaquecas, dores nas articulações, problemas na fala e na mastigação em adultos. Na infância, ela pode comprometer a formação dos ossos da face. São questões para as quais existem tratamentos, mas precisam ser verificados em consultas periódicas com o cirurgião dentista”, alerta ela.   

Ela também alerta para problemas sérios que podem ocorrer se as bactérias que colonizam a boca chegarem à corrente sanguínea. Um estudo divulgado pelo Instituto do Coração (Incor), da Universidade de São Paulo (USP), aponta que 45% das doenças cardíacas têm início na cavidade bucal, podendo ser nos dentes, lábios, gengiva, língua e bochecha. Entre elas estão a endocardite bacteriana, aterosclerose, arritmia, AVC (acidente vascular cerebral) e até mesmo o infarto. Mais de 400 tipos de bactérias podem povoar a boca de uma pessoa, e se chegarem ao coração provocam endocardite bacteriana e no pulmão, a pneumonia. Se uma bactéria chega às articulações é possível contrair artrite reumática. “Já as grávidas, precisam ter cuidados redobrados, pois uma infecção periodontal pode induzir um parto prematuro e comprometer a saúde de mãe e filhos”.  Um estudo realizado pela Universidade Case Western Reserve, bactérias bucais podem ser responsáveis pelo nascimento de bebês prematuros e de baixo peso. A Fusobacterium nucleatum é uma delas e é a espécie mais encontrada no líquido amniótico de mulheres que não conseguiram levar a gestação a termo.

Uma pesquisa feita pela Universidade Inonu, na Turquia, garante que homens com gengivas inflamadas têm até três vezes mais chances de ter impotência sexual. Os resultados mostraram que 53% do grupo que sofria com a impotência tinham gengivas inflamadas, contra apenas 23% do outro grupo.  A pesquisa diz também que a periodontite tem o poder de bloquear uma enzima chamada NOS que tem papel importante na hora da ereção. 

Outra doença muito séria que pode surgir na boca e pode ser pré-diagnosticada por um odontólogo é o câncer de boca. “Diferente de cáries e periodontite,  as causas não estão relacionadas à higiene bucal mas sim a fatores genéticos e hábitos ruins de vida como ingestão de bebida alcoólica e vício em cigarro”, pontua Carla que alerta para o alto índice do diagnóstico que pode começar com uma simples ferida que não cicatriza na boca. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer, é mais comum em homens com  mais de 40 anos e somente em 2020  foram diagnosticados 15.190 casos,  sendo 11.180 homens e 4.010 mulheres. Com alta taxa de mortalidade, a doença pode espalhar para o corpo e em 2018 provocou 6.455 mortes, sendo 4.974 homens. 

No contexto histórico, o Brasil evoluiu muito no que se refere aos cuidados com a saúde bucal em geral.  Dados do Ministério da Saúde de 1986 apontaram um índice de cárie, aos 12 anos de 6,7, ou seja, aproximadamente 7 dentes afetados pela doença. Em 2003 foi realizado outro levantamento que mostrou uma redução para  2,78. Já em 2010 esse número chegou a uma redução de 26% em 7 anos. Ainda neste levantamento, o Brasil entrou no grupo de países com baixa prevalência de cárie segundo o critério da Organização Mundial da Saúde (OMS). Atualmente é o País com maior número de dentistas do mundo, com 19% dos profissionais habilitados.

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