Grupo Arte e Fatos se apresenta no Teatro Sesi nesta terça (4)

Kamilla Nunes

“No Fundo do Poço” provoca uma imersão entre o sagrado e o profano ao abordar temas contemporâneos

“Ocês têm que pará com essa ordança: de achá que muié foi feita só pra recebê orde”. O questionamento ecoa da voz de Detinha – personagem crucial da peça, mas o grito é de milhares de mulheres que, em busca da luta pelo fim da desigualdade de gênero, reivindicam por mais respeito nas mais diversas formas. Nesta terça-feira (4), o público goiano pode conferir o mais novo trabalho realizado pelo grupo de teatro Arte e Fatos, a partir das 20h, no Teatro Sesi. “No Fundo do Poço” provoca uma imersão entre o sagrado e o profano ao abordar temas contemporâneos.

Medo? Machismo? Pobreza? Assédio? Suicídio? O grito é cada vez mais alto, e os índices também são. De acordo com a pesquisa realizada pela revista britânica The Economist, em 2019, o Brasil ocupou o 11° lugar no ranking de abuso e exploração sexual infantil – situação que fica nas entrelinhas na relação entre pai e filho representada na peça. Com texto e direção de Danilo Alencar, o espetáculo aborda sobre as práticas culturais que levam ao machismo, a desigualdade de gênero, as nuances do assédio e do abuso sexual e importantes reflexões sobre a complexidade do suicídio.

Com personagens que exteriorizam as suas inquietudes, “No Fundo do Poço” apresenta ao público questões sociais divididas por uma linha tênue entre fantasia e realidade. Para Danilo, conscientizar o espectador sobre os problemas enfrentados pela sociedade é um dos principais objetivos da peça. “O teatro possui um papel social extremamente importante para a formação da sociedade. Resolvi tratar de temas bastante recorrentes em nosso cotidiano, mas que não são vistos por parte da sociedade. São temas que ainda carregam vários tabus e, assim, promovem um serviço de desinformação. Compartilhar o conhecimento por meio da arte é a essência do Arte e Fatos e eu, enquanto artista e historiador, devo cumprir com honra o meu ofício”, enfatizou o diretor.

Escrita há 10 anos, a obra “No Fundo do Poço” apresenta, de forma pontual e relevante, diversas figuras de linguagem que apresentam de maneira peculiar as características da cultura regional, especialmente daquela vivida no campo. O título da obra é uma das metáforas, utilizadas pelo autor, que faz alusão ao contexto político brasileiro. No enredo, a presença de diversas abordagens: de temas sobre a desigualdade social a questões relacionadas ao futuro do Meio Ambiente. “Será pai um bichim assim, miúdo, capais de findá com os ser vivente tudo?”. O trecho da obra faz referência ao papel fundamental das abelhas para o equilíbrio dos ecossistemas – assunto bastante discutido por cientistas, em 2019. “As abelhas têm uma importância ímpar para o mundo. Sem elas, a vida se torna impossível. A humanidade, a fauna e a flora precisam da polinização que as abelhas fazem. Esse tema é pouco conhecido pela sociedade. Devemos ajudar a conscientizar a população”, enfatiza Danilo.

O dramaturgo explica que a pesquisa realizada no processo de montagem da peça identificou altos índices da prática de violência sexual no Estado de Goiás. “É triste reconhecer que não foi difícil encontrar vítimas de abuso. Infelizmente nós descobrimos que essa prática que assola o país é muito comum entre familiares”, afirma. Depoimentos de várias vítimas foram usados para a construção do espetáculo. A realidade de famílias com histórico de assédio sexual, a influência das crenças e da cultura popular, além do cenário de sobrevivência de famílias em situação de pobreza são algumas das temáticas abordadas no espetáculo “No Fundo do Poço”. 

Serviço

Espetáculo: No Fundo do Poço
Quando: 4 de fevereiro
Onde: Teatro Sesi
Horário: às 20h
Ingresso: 1 livro literário ou 2 kg de alimentos
Realização: Arte e Fatos (PUC GO) e Casa de Nazaré

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