2 dedos de prosa com o surpreendente Marco Antonini

*** entrevista na íntegra. Fotos: acervo de Marco Antonini

Prefácio:

Querida Patrícia, você um dia me convidou para fazer uma entrevista, papo, algo assim. Na época eu disse que tinha pouca coisa pra dizer, mas que no devido tempo eu conversaria com você exclusivamente.

Passei a odiar entrevistas, imprensa, coisas de divulgação. Na verdade as pessoas fazem uma “nota de coluna social”, ou simplesmente reproduzem o release. Acho que por isso a história de nossos artistas locais esta fadada ao esquecimento, nunca perguntaram, questionaram, ponderaram, contestaram de verdade os artistas daqui. É sempre a mesma coisa, mesmo antes de mim. A Raquel Azeredo, Helter Duarte, Ester Bueno, Luciano Cabral, Anselmo Troncoso não, esses faziam e ainda fazem questão de saber o que fazíamos e o porquê. Com exceção da Éster que nos deixou, todos estão onde estão, porque realmente são jornalistas.

Eu sou muito tímido e acho que não tenho nada de interessante pra dizer e que interesse as pessoas. Eu tenho pra fazer, e infelizmente as pessoas andam muito preguiçosas para prestarem atenção no trabalho do próximo. A Internet trouxe benefícios, mas também trouxe o poder de que qualquer um pode falar e fazer o que bem entende, mesmo que seja pra ofender e depreciar o próximo. E sou de atravessar a noite conversando, rindo, encenando, cantando. Aquele bem goiano mesmo, muito embora alguns me “acham metido” e nunca tive essa pretensão, motivo e nem tenho onde cair morto. Essa “cara” de rico ou bem nascido é somente uma defesa de quem nunca teve nada na vida, mas se espelhou nas boas coisas, bons modos e bom gosto pra viver e respeitar o próximo.

Tá! Meu 2 dedos de prosa na verdade é quase igual o adágio local sobre os a dose de pinga, que vai do dedão ao mindinho em palmo aberto. Ta aí, verdadeiramente 2 dedos de prosa. Também você não disse qual a quantidade da dose, me servi, fiz o atrevido. Só pra variar……rsrsrsrsr.

Obrigado, você é muito linda e especial.

Um beijo gentil e carinhoso.

Marco Antonini.

2 Dedos de Prosa – Sua formação acadêmica é em comunicação social. Como a música te pegou?

Marco Antonini – Estudei Rádio e Televisão, depois fiz jornalismo e finalmente fiz mestrado em Leeds, Inglaterra. Mas nunca exerci talvez algum dia eu experimente o que fiz com o Programa Raddar, reportagens especiais ou mesmo apresentador, “âncora”. Não tenho medo de nada, e se me explicarem sou capaz de fazer tudo.

Desde criança nunca tive acesso a rádio, discos, coisas assim, mesmo porque nem eletricidade em casa tínhamos. Tivemos de morar eu e minha irmã sozinhos, eu com 6 anos e minha irmã com 9. Lembro-me de que quando morávamos com meu pai, era um período em que tínhamos tudo, inclusive família, mas desde os meus 4 anos, ele já não conseguia sequer cuidar de si. Quando ele faleceu eu tinha 9. Ele tentou matar minha mãe várias vezes, ela fugiu obviamente. Ficamos a deriva. Eu minha irmã tivemos uma vida muito difícil e de favores. Mas um fato que me marcou foi que em 1974 eu vi a despedida dos Secos & Molhados no Fantástico. Quando vi “aquilo”, eu soube exatamente o que eu queria fazer da minha vida. Também acompanhava muito a Rita Lee que era frequente nos programas dominicais. Eu não tinha nada, mas tinha bom gosto e já sabia o que queria (rsrsrsrsrsrs)

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2 DP – Marco Antonini é extremamente arte. Inspira arte em tudo o que faz. Seus shows vão além de arte cantada, e sabe bem envolver o teatro, a poesia, o cinema e o vídeo. O que te inspira?

MA – A novidade, o desaforo, abusado, deboche, o estranho, que incomoda, inquieta, questiona, faz pensar, contesta, mexe por dentro, do medo, da coragem, do tesão, tensão, da prazer, inquietude, alegria, muita alegria.

Tive a sorte de conviver com artistas assim, contestadores, estranhos, inquietos. Sempre me identifiquei com isso, dentre os quais tive e tenho sorte de ser amigo, Henrique Rodovalho, Shell Júnior, Duda Paiva, Newton Murce.

Quem cresceu amando Rita e Ney, também nem precisa mais de muitas coisas. Pensa que loucura era no interior gostar de Rita e Ney. (rsrsrsrsrsrs)

2 DP – Goiás considerado “celeiro” da música sertaneja, e você, há 20 anos caminha na contramão. Sempre se reinventando. Qual foi o turning point?

MA – Sou o primeiro artista, genuinamente pop daqui, mas o pop era algo mais saudável, criativo e questionador. Eu venho do teatro, estudar luz, cenários, figurinos, trilhas, textos profundos, “patelão”, clichês, densos, viver várias vidas. Assim eu aprendi a me compreender e aceitar, a entender o mundo, como são as coisas e porque são. A descoberta do amor, sexo, das possibilidades, separando o que é sonho da realidade. Nossos laboratórios eram de criação pura, 99% de suor, 1% de inspiração. Aprendi a lutar, viver, sobreviver, criar. Ter ideias malucas e executáveis.

Nesse “aprendi a lutar”, acho que já nasci brigando com o médico que fez o parto da minha mãe, cujo era Dr. Silvio Paschoal.

Pois se tem algo nessa vida que faço, é lutar, sobreviver, recomeçar. Só tive “nãos” e exclusão em toda a minha infância. Isso não me causou rancor ou mágoa, mas sim amor, felicidade, humildade, responsabilidade e caráter. O que não se tem, quando conquistado é muito bonito. Até mesmo a minha comida tem de ser conquistada, nada foi fácil, ainda na é e creio que não será, eu sou a prova viva de que o “Impossível” é apenas uma palavra.

 2 DP – Quais são suas principais influências? Já dividiu o palcocom algum ídolo?

MA – Como sou basicamente dos anos 70, 80 e só ouvi e vi TV, minha formação musical sempre foram os programas de TVs, rádios AM e etc. Sigo meu coração, o ritmo, a alegria. Se tiver um bom baixo e uma batida bacana, pronto, to dentro.

Considero-me dos anos 80, a era do vídeo clipe, cresci e me diverti com Duran Duran, Michael Jackson, Prince. Não sigo ninguém de influência, tenho cá pra mim que o Rock é negro. Assistindo a Cadillac Records, decretei essa sentença. Gosto bem mais da música negra do que do rock dos Beatles, Stones. Esses que todos acham deuses e não me simpatizo. Eu seria ingrato se eu não disser que na minha época os artistas mudavam o mundo, tanto mudavam que inspiraram vários dos grandes talentos que temos hoje. Eu não, não sou grande e nem quero ser. Não sou a salvação de nada e nem sou genial. Sou apenas alguém com um “significado especial” que sabe transformar e contagiar várias pessoas numa corrente de emoções, alegria, dança. Mas não posso dizer deixar de agradecer ao Duran Duran, Michael Jackson, Prince, The Cult, The Cure.

Claro, eles nunca irão me ouvir, se bem que os “Durans” já! (rsrsr), mas isso é o de menos, o que importa é que a música deles me fez melhor, me faz melhor e me incentiva a seguir meu coração. E acho que quando a sua vida tem um significado, isso sim faz toda a diferença.

Ao contrário, acho que sou o único ser humano que não compraria um disco, tão pouco iria aos shows dos Beatles, Stones, U2, Madonna, Radiohead, Pink Floyd, Coldplay, Muse, Pearl Jam, Nirvana, Guns In Roses. Não tenho a menor paciência para essas pessoas. (Rsrsr) Não estou sendo ingrato ou ofendendo quem goste. Isso é indiscutível, mas gosto de dizer do que gosto e do não, sem ofender, sem birras, pirraças, implicância, uns eu não tive paciência pra ser “educado” ao ouvi-los, outros eu não me interesso mesmo.

Já dividi o palco com vários respeitáveis, Lulu Santos, Fernanda Abreu, Chico Science, Skank, Paralamas, Man At Work, Jorge Benjor, Cidade Negra, Rita Lee, Ney Matogrosso, Ira, O Rappa, Planet Hemp, Edson Cordeiro, Odair José com quem gravei ao vivo, Nila Branco, Claudia Vieira, Bruna Mendez, Casa Bizantina, Capital, Lobão, Jota, Barão, Engenheiros, Ed Motta, Tim Maia. Nossa tem muitos ainda e esqueci (rsrsrsrsrsrs)

2 DP  Você gravou pela Music4Life USA. Como vê o cenário nacional de produção musical, comparado ao exterior?

MA – Comigo, Goiás teve o primeiro “grande produtor” a vir pra cá e fazer um disco, Marcelo Sussekind (Lobão, Marina, Ana Carolina, Jota Quest, Mauricio Manieri, Erasmo Carlos, Capital, etc.). Isso foi um avanço na parte técnica de gravação, composição, distribuição e etc.

Da parte internacional, antes era meio que algo de outro mundo trabalhar com alguém famoso e respeitado dentro do Brasil, Imagina com alguém lá fora. Poxa, pessoalmente foi fantástico. Antes era incrível, hoje, porém, temos excelentes produtores, músicos, NERDs aqui. E eles são ótimos.

Na questão mercado, não posso falar muito, pois sei como funciona, mas não participo e não participei dele. O que eu falar disso estarei mentindo ou supondo.

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2 DP  Marco Antonini sempre foi vanguardista. O seu disco Novo de Novo Dois Lados teve colaboração do DJ In-Panic, que é Israelense, como foi a experiência?

MA – O disco “Novo De Novo” nunca foi lançado. Ele esta preso por direitos autorais e entraves de contratos. Esse lançado, foi uma coletânea com algumas coisas as quais são só minhas e assim pude lançar. Na verdade eu tenho 3 discos “presos”, ou porque a gravadora faliu, empresário. SOU MEGA SORTUDO PRA ARRUMAR ENCRENCA (rsrsrsr).

Voltando ao assunto, foi muito bacana e difícil, pois tínhamos de nos comunicar e parecíamos 2 ets tentando um diálogo, pois a linguagem de trabalho é técnica. Mas como a música é uma língua universal, logo as coisas ficaram claras.

Isso foi bom, porque também tive a sorte de trabalhar com o Manda-Chuva dos BodyRockers, Kaz James, o DJ preferido do príncipe Philippe e dono de hits na Europa e USA. Trabalhei também com o brasileiro DJ Alerkin, um cara incrível. Tínhamos um disco eletrônico todo pronto, roubaram o estúdio dele, pcs e todas as matrizes, ele “grilou” geral e deu como “disco morto”. Acho que seria um fato inédito se o lançássemos, tenho umas 4 ou 5 canções em demos, FANTÁSTICAS. Mas ele definitivamente deu por morto este assunto. Respeitei claro.

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