Patricia Finotti

Um livro para se ouvir e ler é a nova obra poética da escritora, jornalista e empresária Cássia Fernandes. A obra Abracadabras: crio enquanto falo, é um ebook e audiolivro, e foi lançado recentemente em meados de maio, com distribuição gratuita e acessibilidade para leitores com deficiência visual e leitores com deficiência auditiva alfabetizados em Português.

Prestigiamos o lançamento, e conversamos com a autora, sobre este e outras ações realizadas por ela. Confira a entrevista, e acesse o livro através www.negalilu.com.br/livros/abracadabras-crio-enquanto-falo/#.WS12spLyuM8, para obter o voucher de leitura gratuita.

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Cássia Fernandes no lançamento de Abracadabras: crio enquanto falo. (crédito: Patricia Finotti)

 Patricia Finotti Opinião – Quem é Cássia Fernandes?

 Cássia FernandesUma escrevedora, que realmente morreria se lhe fosse vedado escrever, citando aqui Rainer Maria Rilke que em seu livro “Cartas a um jovem poeta” propõe essa pergunta a um aspirante a escritor. Perguntei-me isso muito jovem, ainda na adolescência, e às vezes a reformulo: não será a literatura só um capricho?  Sinto que não, porque ela cobra caro e tenho arcado com seus altos custos. Para começar, já é preciso resistir a todas a todas as forças que tentam nos matar como artistas, vozes que desencorajam e menosprezam a arte sobretudo em um país como o Brasil e um estado como Goiás,  presentes até entre aqueles que nos querem bem. Precisamos ter uma obstinação terrível para prosseguir.

 PFO – Você macera em seus poemas, o grito de uma mulher independente e contemporânea, e como bem diz que vive em todas nós.

CF Tanto em Almofariz do tempo, publicado em 2016 quanto em Abracadabras, lançado recentemente, há um discurso feminino apimentado e enfático, em que se abordam as contradições de nosso tempo, o embate entre as antigas ilusões românticas, a superficialidade e transitoriedade das relações, e autonomia emocional. Mas os temas dos poemas não são exclusivamente relativos ao feminino, são universais.  São não só o amor, mas a vida, a morte, a passagem do tempo, que estão em toda a literatura já produzida. No entanto, ainda há ainda uma tendência a se considerar universal  a literatura escrita por homens e “e especificamente feminina” aquela que é feita por mulheres, como se o feminino também  não fosse o humano e universal. Como diria Condessa, um personagem-heterônimo em Abracadabras: escrevemos sobre amor e todo o resto, mas eles é que só enxergam nosso sexo.

 PFO – Abracadabras: crio enquanto falo é sua 3ª publicação? O que difere das outras?

CF Publiquei em 2000 o romance Cartas que não te escrevi e no ano passado o livro de poemas Almofariz do tempo. Abracadabras é uma publicação mais ousada porque estamos experimentando novos meios. A obra não existe no formato impresso, mas apenas como e-book e audiolivro, o que pode nos permitir atingir um público mais amplo. É uma preocupação da Nega Lilu Editora e minha, que a obra alcance o leitor, não só de Goiânia, mas das cidades do interior e fora do Estado. Estão sendo oferecidos inclusive 2 mil downloads e acesos gratuitos do e-book e audiolivro, o que é também uma contrapartida ao financiamento público pelo Fundo Estadual de Cultura.  Para obtê-los basta ir até o site www.negalilu.com.br

 PFO – Qual a intenção dessa obra, em ser um audiolivro?

CF Ela é primeiramente um livro para ser lido, porque esses poemas foram sendo concebidos e falados.  A sua feitura leva em conta o ritmo, o tom da voz e sinto que assim é que eles ganham mais sentido. Além disso, pretendemos promover a inclusão, permitindo o acesso às pessoas com deficiência visual, e também àquelas que têm limitações de leitura, como os idosos, ou mesmo aqueles que querem ler, mas dispõem de pouco tempo. O audiolivro pode ser ouvido enquanto se está no trânsito, praticando exercícios, limpando a casa.

 PFO Quem são as três alminhas: Miss Austen, Condessa e Madame Natasha? Como nasceram essas personagens?

CF As personagens seriam realmente alminhas penadas, ou melhor, alminhas que se apropriam da pena, da minha pena como escritora, ora para se manifestar, ora para comigo se confundir. É uma ficção na poesia.  São também personagens que estou desenvolvendo em um romance. Eis um perfil biográfico de cada uma. Ele não está, no entanto, explícito na obra e pode ser construído pelo leitor à medida que ele avança na leitura, se ele for recolhendo e unindo as pistas, pois há poemas assinados por cada uma e há aqueles sobre elas.

Miss Austen surgiu de uma referência à escritora inglesa Jane Austen. Foi uma senhorita romântica que viveu na Inglaterra, no século XIX. Nunca se casou e mantém-se em estado de amor, tendo uma sequência de histórias de paixão e malogro. É, contudo, profunda, espiritual, sensível e observadora das emoções e relações humanas. Possivelmente, é a mais antiga das alminhas, tendo vivido muitas outras encarnações anteriores.

Condessa teria vivido no século XVIII, contemporânea de mulheres como a Marquesa de Merteuil, personagem do romance “As ligações perigosas” de Chordelos de Laclos, que foi inclusive adaptado para o cinema. Libertina e empoderada, teria ficado viúva e, após a suposta morte de seu marido conde, passou a ter uma vida completamente livre.  Habita o Segundo Círculo do Inferno de Dante Alighieri, onde ficam os luxuriosos. Cética quanto ao amor-paixão-romântico, ao manifestar-se no século XXI, aproveita para pegar geral.

Madame Natasha é uma cigana de origem misteriosa. Diz que tem ascendência portuguesa, mas é possivelmente brasileira, fruto de grande mistura de etnias. Faz questão de não esclarecer sua origem e, quando bebe, fala línguas estranhas. Pode ter sido uma bruxa queimada na fogueira na Idade Média. É uma sobrevivente do povo e faz de tudo um pouco para ganhar a vida: joga búzios, lê cartas etc, e parece até que dança pole dance para descolar algum. Tem realmente alguns poderes paranormais, o dom da profecia, mas frequentemente esses poderes lhe faltam e ela age como uma embusteira.

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Wagner Sean compôs a trilha sonora de Abracadabras. (crédito: Patricia Finotti)

PFO Como aconteceu a inspiração para a composição sonora de Abracadabras: crio enquanto falo?

CF Eu escrevia os poemas e os guia gravando, editando podcasts de forma caseira mesmo, utilizando músicas. Muitos inclusive surgiram associados a músicas. Eu os publicava em meu antigo blog. Larissa Mundim, diretora da Nega Lilu Editora, vislumbrou aí a possibilidade de fazer um projeto bacana, inclusivo, e encampou essa ideia, inaugurando com ele o SeloÇ3, dedicado a publicações digitais. A obra teve assim trilha sonora composta pelo músico Wagner Sean e contou com a direção artística e sampling do escritor Itamar Pires, além das vozes das atrizes Carol Schmid e Débora Di Sá, que dão vida às personagens juntamente comigo.

PFO Você é diretora de La Lumière – A Casa de Todas as Histórias, conte-nos sobre essa fábrica de apresentar vidas e seus projetos.

CF Por meio de La Lumiére, produzo vídeos que contam a história de pessoas, de instituições de cidades.  Procuro mostrar que toda história é bonita e merece ser contada, e que, atualmente, a produção do “filme da sua vida”, ou do filme da vida de seus pais, avós, antepassados é acessível.  Ao produzir esses vídeos, sinto que as pessoas se reconciliam com sua história, de seus antepassados, que resgatam lembranças e as preservam para as próximas gerações. Os vídeos podem ser exibidos em eventos comemorativos, mas principalmente  constituem um importante acervo da memória.  E temos muitas histórias bonitas para contar.

PFO O que podemos esperar da escritora, empresária e jornalista Cássia Fernandes para os próximos meses?

CF Vêm por aí muitas histórias, que serão contadas ou por meio de crônicas, poemas ou vídeos. E espero também concluir o romance em que as três personagens revelarão novas facetas ou quem sabe suas verdadeiras faces. Voltar a publicar romances, meu gênero preferido como leitora, é minha maior ambição. (Patricia Finotti)

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