Patricia Finotti

(crédito: Philipp Lavra)

 

Pedro Goifman é filho de cineastas, e cresceu cercado por arte. Começou a atuar ainda criança, e, paralelamente, frequentava as aulas de circo. Apaixonado por cinema e pelos estudos de Artes Cênicas, em que cursava na Universidade de São de Paulo, tem avançado com sucesso profissionalmente, passando por produções no teatro, cinema, circo e streaming, como protagonista em “B.A.: O Futuro Está Morto” (MAX). Em Garota do Momento, o ator precisou trancar o curso universitário para estrear a sua primeira novela no Rio de Janeiro.

 

No folhetim, ele interpreta Guto, um menino sensível descobrindo sua sexualidade e os desafios de ser um jovem gay nos anos 1950. Um período em que o homossexualismo não era discutido.

 

Para falar do seu trabalho, a sua estreia na televisão, e a sua perspectiva sobre a indústria do audiovisual no Brasil, conversamos com Pedro Goifman,. Confira esse 2 Dedos de Prosa!

 

Sou um ator que dirige, que escreve, que produz, que já fotografou, editou e vai fazer de tudo, porque fazer arte no Brasil é isso. Mas sou ator, e isso é o mais importante. Mas isso não muda o fato de que amo transitar pelas outras áreas. Inclusive é o contrário: quanto mais ocupo funções diferentes, mais me desenvolvo como ator.

 

Portal Patricia Finotti – Você vem de uma família de cineastas. Como foi crescer nesse meio? Você acha que foi um fator decisivo para a sua escolha profissional?

Pedro Goifman  – Sim. Meus pais são cineastas e é claro que isso afeta completamente a minha vida e minha relação com a arte. Sinto que o que mais me influenciou foi ter tido uma criação muito artística. Sempre fui muito no teatro, no cinema, em exposições, circos, shows… então pude desenvolver um repertório desde cedo, assim como minha paixão pela atuação.

 

P.P.F. – Além de ator, você é também diretor de audiovisual, teatro e webséries. O que prefere fazer: atuar ou dirigir?

P.G – Sou ator. Não é sobre preferir uma coisa ou outra. É sobre ser. Sou um ator que dirige, que escreve, que produz, que já fotografou, editou e vai fazer de tudo, porque fazer arte no Brasil é isso. Mas sou ator, e isso é o mais importante.

Mas isso não muda o fato de que amo transitar pelas outras áreas. Inclusive é o contrário: quanto mais ocupo funções diferentes, mais me desenvolvo como ator.

 

P.P.F – Como surgiu a vontade de trabalhar com artes circenses?

P.G. – Meu amor pelo circo começou quando eu era bem novinho, indo a espetáculos. Logo fiquei com vontade de aprender e de estar lá fazendo, então, com 5 anos, insisti para os meus pais, que me colocaram em uma escola de circo. Com uns 7, me juntei com alguns amigos na escola e iniciei um grupo de palhaços. Escrevi uma peça cômica e ensaiávamos no recreio. Começamos a apresentar para as outras turmas e professores.

Quando eu tinha oito, uma jornalista da Folha de São Paulo foi me entrevistar e, quando contei isso, ela resolveu fazer uma matéria só sobre o grupo e organizou uma montagem da peça no Miniteatro, que ficava na praça Roosevelt, em São Paulo. E foi nesse momento que fiz a minha primeira apresentação profissional no teatro. Com nove anos o grupo se desfez, mas eu segui estudando. Comecei a treinar malabarismo com um amigo, o Tuti.

Depois, estudei teatro corporal com máscaras a partir da pedagogia do Jacques Lecoq, na Casa 11, que é uma escola formada por ex alunos da escola dele. Em seguida, também lá, passei a ter aulas de palhaçaria.

Paralelamente, com 12 anos, entrei em projetos sociais, que tinham muito a ver com esse universo. E segui fazendo outros cursos, inclusive improviso e palhaçaria com o Márcio Ballas, grande mestre.

O circo nunca saiu da minha vida e nunca sairá.

 

P.P.F – Você também realiza trabalhos sociais?

P.G. – Não, mas já participei de dois. Um chamado OBA!, em escolas públicas em São Paulo; e outro chamado Chá de Arte, onde íamos no Hospital Municipal Infantil Menino Jesus, para brincar, fazer teatro, palhaçaria, mágica e música com as crianças, responsáveis e funcionários.

 

O circo nunca saiu da minha vida e nunca sairá.

 

P.P.F. – Qual a sua percepção da indústria do audiovisual no Brasil?

P.G. – Nossa! Acho que nem se eu estudasse muito e escrevesse um livro eu poderia perceber a totalidade da indústria audiovisual no Brasil.

Mas o principal é: precisamos de um projeto sólido para a cultura e que inclua formação de público. As pessoas precisam apreciar o cinema nacional desde crianças, na escola. Filmes incríveis são feitos por aqui, mas eles perdem muito espaço para os blockbusters estadunidenses.

Além disso, sinto que a nossa maior potência está na descentralização. O Brasil é riquíssimo culturalmente e é preciso que se faça cinema em todos os lugares desse país. O modelo centralizado – inspirado em Hollywood – enfraquece essa nossa diversidade.

Por fim, a ideia de que um filme só deveria existir se ele traz público ou prêmios precisa acabar. Precisamos fazer filmes que ousem na linguagem. E isso só é possível se errarmos. É necessário que filmes “ruins” sejam feitos, pra que a arte se renove. A arte mora no risco, no erro.

 

P.P.F – Qual a sua opinião sobre os desafios de ser um profissional que trabalha com artes no Brasil? E o que mais gosta na carreira de ator?

P.G. – É muito difícil. É uma carreira incerta, complexa e que dá muitos nós na cabeça e no corpo. No Brasil é ainda mais difícil, por diversas razões, mas ao mesmo tempo é maravilhoso, porque estamos em um país riquíssimo culturalmente. A arte vibra por aqui.

E o que eu mais gosto na carreira de ator é a possibilidade de viver infinitas vidas em uma.

 

As pessoas precisam apreciar o cinema nacional desde crianças, na escola. Filmes incríveis são feitos por aqui, mas eles perdem muito espaço para os blockbusters estadunidenses.

 

P.P.F – Você tem atuações relevantes no streaming. Qual é a diferença em trabalhar em TV aberta, com a novela?

P.G. – A diferença é muito grande, são linguagens diferentes. Tudo muda: o modo de se comportar no set, a relação com as pessoas, o tempo, a duração, a relação com a história, a forma que a narrativa é escrita, os personagens.

Mas, para mim, as principais diferenças foram a relação com as câmeras (na novela são mais câmeras, então precisamos nos posicionar bem para todas elas); a duração do projeto e a velocidade (a novela é muito maior e feita com muito mais rapidez); e o fato de ser uma obra aberta, em que eu não sei o que vai acontecer com meu personagem e o público tem força para interferir. A ideia do espectador como coautor me fascina.

 

P.P.F. – Na novela “Garota do Momento”, você interpreta Guto, seu primeiro personagem na TV aberta. Em quem se inspirou para compor o seu personagem?

P.G. – A principal fonte é sempre o próprio texto – que deve ser estudado, questionado e confrontado – e eu mesmo – porque acredito que tudo sempre está em nós. Mas, além disso, consumi muito o que o Guto consumiria se tivesse existido. A principais figuras que apareceram nessa pesquisa foram os galãs da época: James Dean, Marlon Brando, Elvis Presley, Rock Hudson…

Inclusive, semana passada, foi ao ar uma cena em que eu imito o Marlon Brando, com figurino e tudo. Mas certamente, desses, o que mais me puxou foi o James Dean. O Ícaro me emprestou um livro sobre ele e eu devorei. É enriquecedor estudar esses grandes ícones do cinema mundial.

 

O Brasil é riquíssimo culturalmente e é preciso que se faça cinema em todos os lugares desse país.

 

P.P.F. – O Guto não é o primeiro personagem abertamente LGBTQIAPN+ que você interpreta. No streaming você fez Tomás, na série B.A.: O Futuro Está Morto. Pode nos falar sobre essas duas experiências? E como se prepara emocionalmente para interpretar as cenas mais intensas ou dramáticas?

P.G. – O Tomás foi um encanto. Um fogo que me consumiu por inteiro e me fez explodir e implodir. Mudou minha vida completamente. Amadureci muito ali, e certamente só me senti e sinto pronto para interpretar o Guto, porque fiz o Tomás.

Sobre as cenas mais intensas: cada experiência que o Guto vai viver me obriga a me preparar de uma forma específica. Não existe um padrão.

Mas, além de ler tudo com antecedência, estudo as cenas antes em casa, para chegar no set com tudo decorado. Para cenas que exigem um foco especial, faço exercícios de respiração e vibrantes (técnica de preparação vocal).

E acima de tudo está a presença. Se eu estou imerso no personagem, atento ao instante e focado, a emoção e o texto vêm naturalmente.

 

A ideia do espectador como coautor me fascina.

 

P.P.F. – Como você percebe a questão do preconceito vivido pelo Guto, um jovem carioca nos anos de 1950, e a nossa realidade em 2025?

P.G. – Este é um assunto denso e eu não sou pesquisador da área, então não vou sair de uma análise rasa – para quem se interessa, recomendo as obras de filósofos como Paul B. Preciado e Judith Butler, referências contemporâneas no pensamento da teoria queer e do feminismo.

Mas o básico é: é evidente que algo melhorou, que o preconceito era mais explícito nos anos 50. Porém, a discriminação ainda é intensa hoje em dia e muito perigosa. Pessoas ainda morrem e isso não pode continuar sendo a realidade. Tenho medo da atual ascensão da extrema direita.

 

É enriquecedor estudar os grandes ícones do cinema mundial.

 

P.P.F. – Quais são seus planos para o futuro?

P.G. – Meu principal plano agora é terminar bem a novela. Está no fim, mas ainda tem coisa pela frente.

Além disso, tenho alguns projetos que já gravei e que devem ser lançados em breve: a série Tarã, do Disney+; os longas “Eclipse”, da Djin Sganzerla; e “Não Estou Aqui”, do Cristiano Burlan; e “Adrenalina”, curta que eu dirigi e que está em processo de pós produção.

Mas confesso que estou com muita saudade de fazer cinema. Essa é a minha maior vontade no momento

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