Patricia Finotti

Kasane

Oncologista do Hemolabor explica como o teste funciona, quais seus benefícios e desafios para implementação no Brasil

Teste de urina para detecção de câncer? É o que afirma novo estudo publicado na revista internacional JAMA Oncology. Um novo teste de urina que analisa 18 genes mostrou uma alta precisão no diagnóstico de câncer de próstata de alto grau, e, segundo o oncologista do Hemolabor, Uirá Resende, pode ser uma ferramenta potencial para reduzir biópsias desnecessárias em um dos tipos cancerígenos cujo exame ainda é um tabu entre homens.

Conhecido como MyProstateScore 2.0 (MPS2), o teste é eficaz precisamente porque transforma a abordagem de rastreamento e diagnóstico do câncer de próstata ao proporcionar uma maneira menos invasiva e mais eficiente de identificar cânceres de alto grau. “Esse teste de urina oferece alta sensibilidade e valor preditivo negativo – ou seja, aumenta a probabilidade da real ausência da doença quando o teste é negativo –, o que permite reduzir substancialmente o número de biópsias desnecessárias em 35% a 51% dos homens”, explica Uirá.

O oncologista do Hemolabor ainda acrescenta que o teste pode ser integrado como um passo preliminar antes de procedimentos mais invasivos. “Assim, focamos recursos em casos que apresentam risco significativo, o que melhora a eficiência geral do rastreamento e do tratamento do câncer de próstata”. O MPS2 demonstrou, segundo a pesquisa, 99% de sensibilidade e valor preditivo negativo para cânceres de grau 3 ou superior, o que, na prática, significa que os raros resultados falsos negativos eram majoritariamente de cânceres de grau 2, menos propensos a metástases.

A longo prazo, Uirá Resende acredita que o uso de testes genéticos como o MPS2 pode levar a melhor personalização do tratamento desse tipo de câncer. “Isso não só minimizaria intervenções desnecessárias em pacientes com baixo risco, mas também facilitaria a detecção precoce em casos potencialmente letais, melhorando os resultados do tratamento e reduzindo custos de saúde ao evitar sobretratamento e complicações de procedimentos invasivos”, garante.

Integração e desafios

De acordo com o especialista do Hemolabor, o teste poderia ser integrado às práticas clínicas como um teste de triagem inicial para homens com níveis elevados de Antígeno Prostático Específico (PSA) e, assim, os encaminhamentos para realização de biópsia e avaliações adicionais seriam apenas daqueles cujo MPS2 indicasse câncer de alto risco.

Apesar de ser uma ótima abordagem estratificada, Uirá Resende alerta para os grandes limitantes para integração do teste no Brasil. “Ainda não temos pleno acesso a essas tecnologias, das quais a disponibilidade ainda é limitada no país. Além disso, o possível alto custo também é um desafio – os planos de saúde suplementares e o Sistema Único de Saúde (SUS) usualmente não cobrem os custos com análise genética, prevalecendo a barreira financeira à sua realização”.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.