
Ana Paula Mota
Um dos convidados de destaque é o professor Rafael de Luna Freire, da Universidade Federal Fluminense, fundador do LUPA, Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual, que é o primeiro laboratório desse gênero no Brasil.
Nos dias 11 e 12 de setembro acontecerá pela primeira vez em Goiânia a Conferência Goiás de Preservação Audiovisual. O encontro será na Vila Cultural Cora Coralina – Auditório João Bennio, e reunirá importantes convidados, em relevantes momentos de debates, com representações de agrupamentos que tratam especificamente sobre o tema da perda de obras audiovisuais que vêm sendo negligenciadas, e que pertencem a um período específico de produção.
Este projeto, contemplado pelo Edital Municipal 001/2023 da Lei Paulo Gustavo Audiovisual – Goiânia, tem como objetivo principal debater a importância da preservação de filmes e obras em vídeo que fazem parte do patrimônio cultural do estado de Goiás. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas pelo site: https://www.even3.com.
Serão dois dias de programação, com sessão de filmes goianos escolhidos para digitalização pelo projeto “Cine Arquivo Goiás”, sendo quatro obras cinematográficas realizadas nos anos 2000, em um recorte temporal capaz de propor uma análise sobre produção fílmica do estado e debater as influências estéticas e culturais dos realizadores goianos no período histórico proposto. Anjo Alecrim, de Viviane Louise; Espreita, de Eládio Garcia; O filme que nunca existiu, de Sérgio Valério, e Wataú, de Débora Torres, são as obras às quais o público da Conferência poderá ter acesso.
Pioneirismo e democratização de acesso
Segundo os organizadores, esta escolha tem um motivo de ser, que é salientar que a produção brasileira da primeira década dos anos 2000 vem se perdendo por falta de cuidados de preservação. Assim, é fundamental olhar de forma mais atenta para esse período da produção brasileira. Dessa maneira, acredita-se que o cinema de Goiás pode ser pioneiro na discussão sobre preservação audiovisual ao debater o início da primeira década de 2000. O Cine Arquivo Goiás tem justamente a missão de coletar, documentar, recuperar fisicamente, restaurar, transferir para suportes digitais e disponibilizar os filmes permanentemente.
Presenças ilustres confirmadas
Além destas obras e seus diretores, também foram convidados profissionais, estudiosos e técnicos em preservação audiovisual de vários estados brasileiros, que falarão sobre preservação do patrimônio audiovisual nacional, incluindo os diversos suportes de preservação e a necessidade e possibilidade de formação de profissionais habilitados para este trabalho.
Um desses expoentes é o professor Rafael de Luna Freire, que é professor associado no Departamento de Cinema e Vídeo da Universidade Federal Fluminense (UFF) e membro permanente do Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual (PPGCine-UFF). De Luna é fundador e o coordenador do Laboratório Universitário de Preservação Audiovisual (LUPA-UFF), sendo ele o responsável pela restauração do longa-metragem “Antes, o verão”, de Gerson Tavares (1968), e pela reconstituição de “Acabaram-se os otários”, Luiz de Barros (1929), junto com Reinaldo Cardenuto. Autor de inúmeras publicações sobre história do cinema brasileiro, seu mais recente livro é “O negócio do filme: a distribuição cinematográfica no Brasil, 1907-1915”.
Outro nome de grande relevância no cenário nacional é Pablo Gonçalo, que é professor da Faculdade de Comunicação da UnB e autor de livros sobre a história dos roteiros no cinema. Em 2019 foi Fulbright Visiting Scholar da University of Chicago, e possui publicações na Folha de São Paulo, Revista 451, Cult, Journal of Screenwriting, La Furia Umana e Senses of Cinema.
Entre as mulheres de destaque nessa área, estará no evento a doutora em cinema, Joice Scavone, que atualmente leciona na Universidade de Fortaleza. Foi consultora do Brazilian Film and Video Preservation Project por seis anos e lecionou preservação audiovisual nas Faculdades Integradas Hélio Alonso desde 2016, além de ter atuado na área da preservação na Cinemateca do MAM e no Centro Técnico Audiovisual. Seu mestrado, por exemplo, é sobre a restauração de som do filme Mulher, da Cinédia.
A reverberação do debate sobre a conservação
Evento único e enriquecedor, a Conferência Goiás de Preservação Audiovisual é uma ação fundamental para debater e desenhar novos caminhos para manter viva a memória e a cultura cinematográfica de Goiás. Segundo seus organizadores, as mesas e debates tratarão dos conteúdos tanto no plano teórico quanto no plano técnico.
Sobre a magnitude de uma ação cultural como a Conferência Goiás de Preservação Audiovisual, um dos seus organizadores, Lucas dos Reis, que também integra a Comissão Científica do evento, comenta: “A preservação audiovisual é fundamental para conservar a memória e a cultura de um estado. Para pensar a produção fílmica do estado de Goiás e compreender melhor os modos de vida que deram origem ao que somos hoje, manter os filmes circulando é fundamental. Dessa maneira, surge a Conferência Goiás de Preservação Audiovisual e a expectativa é que ela inicie esse debate e promova a preservação dos documentos e da memória goiana.”
Uma parte da Conferência também será reservada para uma reunião da Rede Universitária de Acervos Audiovisuais – RUAAv, um espaço de troca e discussão sobre preservação audiovisual no âmbito das universidades, particularmente dos cursos de cinema, artes e comunicação. Essa reunião também será coordenada pelo professor Rafael de Luna.
Palestrantes de GO, DF, CE e RJ
Mais palestrantes que são profissionais e estudiosos são: Pedro Augusto Diniz, cineasta documentarista, professor de cinema do IFG e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Goiás; o historiador Lucius Fabius Ben Jah Jacob Gomes, que em seu doutorado pesquisa a história urbana e cotidiana da periferia de Goiânia; Fábio Vellozo, que é pesquisador, documentarista e preservador audiovisual, formado em Engenharia Química pela UFRJ, e ex-Coordenador de Pesquisa e Documentação da Cinemateca do MAM-RJ.
Os cineastas
A sessão do Cine Arquivo Goiás em parceria com a Conferência Goiás de Preservação Audiovisual contará com o filme “Wataú!” e sua realizadora, Débora Torres, que já trabalhou com nomes como João Batista de Andrade e Alberto Araújo estará presente para o debate. “Wataú!” teve roteiro do escritor goiano Miguel Jorge, e foi premiado pelo Concurso Brasil 1.500 Anos, do Governo Federal, em 1990, tendo sido rodado no ano 2000,
O filme “Espreita”, de 2001, foi dirigido por Eladio Garcia e também será exibido, com a presença do seu criador, na sessão do dia 11/09, às 18h30. O trabalho é inédito para as novas gerações e a partir deste projeto ficará acessível ao grande público. Eládio é diretor, produtor e roteirista televisivo desde 1987, tendo passado a se dedicar ao cinema em 1999, produzindo curtas e sendo produtor executivo de documentários e filmes de ficção.
O filme “Anjo Alecrim”, de 2005, de Viviane Louise, também é parte do programa de obras digitalizadas que serão exibidas. Viviane Louise Soares, Sócia da Produtora – Armazém Du Film, participou de ações promovidas na área de audiovisual como: Coordenadora do Departamento de Audiovisual da Universidade Estadual de Goiás/2004; Júri de Seleção do Concurso de Longa Metragem do Ministério da Cultura/2009, na Seleção de projetos Audiovisuais do Fundo de Cultura do Estado de Goiás 2013; na produção do Festival Internacional de Cinema Ambiental de Goiás/2001 e Goiânia a Mostra Curtas/2002; na produção da Mostra Audiovisual Presénce et Passé du Cinema Bresilien, Ano do Brasil na França em Paris/2005 e Ano da França no Brasil em Goiás e Distrito Federal/2009. Produziu e assinou Roteiro e Direção dos filmes: Anjo Alecrim/2005; Café com Pão Manteiga Não DOCTVIII/2007; O Vento da Liberdade/2011; A Dama do Cerrado e o Exército de São Francisco /2015.
E por fim, também estará em exibição “O Filme Que Nunca Existiu”, de 2005, do realizador Sérgio Valério. Sérgio Eduardo Ribeiro Valério é formado em Rádio e TV, pela Universidade Federal de Goiás, e pós-graduado em cinema. Em sua empresa, chamada “Fora da Lei”, trabalhou como videomaker para diversos projetos culturais goianos, sendo que desde 1992, ainda em VHS, iniciou uma enorme filmografia de curtas-metragens, tanto ficcionais quanto documentais. Com “O Filme que nunca existiu”, recebeu o Prêmio de Melhor Música, no FestCine Goiânia de 2005.
Comissão organizadora
A Conferência conta ainda com uma equipe de organização com grande bagagem acadêmica e histórica em relação ao cinema e à preservação audiovisual. São integrantes: Geórgia Cynara, além de jornalista, Geórgia é pós-doutora em Meios e Processos Audiovisuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP). A professora e pesquisadora integra o Conselho Deliberativo (2023-2025) da Sociedade Brasileira de Estudos de Cinema e Audiovisual (Socine), tendo sido uma das coordenadoras (2020-2022) do Seminário Temático Estilo e Som no Audiovisual da mesma entidade; Lucas dos Reis Tiago Pereira é mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Cinema e Audiovisual da Universidade Federal Fluminense e graduado em Cinema – Licenciatura pela mesma instituição. Atualmente é membro do coletivo Aeroplano de educação audiovisual. Foi tutor do curso de Cinema – Licenciatura entre 2019-2021 e professor de História do Cinema Brasileiro no COART/UERJ, além de ter atuado como professor na Escola SESC de Ensino Médio nas disciplinas de Cineclube e Produção Fílmica; Heloísa Esser dos Reis é arquivista graduada pela Universidade Federal Fluminense (UFF), mestra em Tecnologia pelo Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (CEFET/RJ). Diretora da Arquiviva – Gestão, Cultura e Arquivo, consultora para arquivos públicos e privados. Presidenta da Associação de Arquivologia do Estado de Goiás. Participa do FNArq e do FEDPCB; e Zenia Souza e Silva, acadêmica de Arquivologia pela Uniasselvi. Atua como primeira secretária na Associação de Arquivologia de Goiás e colabora com o Arquivo Lésbico Brasileiro.
Serviço:
Conferência Goiás de Preservação Audiovisual
Data: 11 e 12 de setembro de 2024 – 4ª e 5ª feira
Horários:
11/09 – das 18h30 às 22h
12/09 – das 8h30 às 19h
Local: Vila Cultural Cora Coralina – Auditório João Bennio (Rua 23 c/ Rua 03, Quadra 67, Setor Central)
Inscrições: Máximo de 50 participantes, por ordem de inscrição. Formulário disponível em https://www.even3.com.br/
Mais informações: www.instagram.