Patricia Finotti

Marilda Rodovalho (@relatosdeumcoracaobipolar)
Mestre em Linguística Aplicada, pela UFG e graduada em Letras pela mesma universidade. Professora de língua portuguesa, inglesa e espanhola no ensino fundamental e médio, português instrumental e língua portuguesa na UEG em convênio com a Academia de Polícia Militar de Goiás.
Participou da equipe de elaboração do currículo de língua portuguesa da Secretaria de Estado da Educação de Goiás, bem como da elaboração de material didático pedagógico distribuído à rede.
Ama viajar, ler, ouvir música e estar com seus animais de estimação e companheiros fieis.

Estava colocando comida para os meus cachorros, tenho quatro ( três fêmeas e um macho, todos castrados) e uma delas, a mais velha e menor, uma poodle branca de treze anos ficou parada olhando para a vasilha de comida sem tocá-la, o que é incomum, geralmente nenhum deles tem problema em comer; todos apreciam a mistura de arroz, carne moída e fígado de galinha que eu mesma preparo, sem tempero e com pouquíssimo óleo, apenas para eles.

Mas Jolie, esse é o nome da minha amada e pequena branquela, ou pequerrucha, ou bebê, como também costumo chama-la, apenas olhava para a vasilha sem tocar, tão pouco se afastava, como faz quando por algum motivo não quer comer. Perguntei a ela qual era o problema, se não queria, ou se não havia carne o suficiente, o que absolutamente não era verdade, eu mesma havia tomado o cuidado de por menos arroz e mais carne, porque ela está de regime.

Tentei fazer um afago, mas o dengo não adiantou, então resolvi tentar outra coisa, busquei um sache de ração e coloquei apenas um pouco por cima, dando mais cheiro à comida. Imediatamente a pequena se pôs a devorar sua refeição. Comecei então a pensar como é importante conhecer e estar atento às necessidades daqueles que amamos. Minha pequena, por mais que eu a trate como um bebê, já é uma senhorinha, com que pese todos os problemas da idade; ela anda mais devagar nos passeios, se cansa antes dos outros, seu olhinho, ela tem apenas um, está ficando esbranquiçado e seu olfato diminuindo. Tem dias em que a comida, para ela, precisa ser mais cheirosa, ter um algo a mais para chamar sua atenção, como acontece com os idosos humanos.

Era assim com minha gatinha Bonie que viveu vinte e um anos ao meu lado e se foi no meio desse ano; ela também gostava de escolher o que queria comer; eu não me importava em peregrinar por pet shoppings em busca de um sache diferente, um que ela ainda não havia provado. Comprava de diferentes marcas e sabores porque a danadinha não aceitava repetir mais que três vezes um mesmo “prato”; ainda bem que o meu outro gatinho ajudava a terminar com a comida estocada, não fazia cerimonia.

Onde estou querendo chegar é que, enquanto alimentava minha pequena Jolie, pensava em como conheço cada um dos animais que tenho por companheiro e como os amo. Sempre considerei que amor e cuidado andam juntos, aquele velho clichê: “quem ama cuida” é verdade. Amar significa ver o outro em suas necessidades, gostos, particularidades e estar ali para cuidar que essa necessidades sejam atendidas de acordo com o gosto e as particularidades da pessoa amada, não de acordo com as minhas expectativas.

Recordo de que quando criança, pedia de Natal uma boneca loira, mas ano após ano recebia bonecas ruivas ou morenas, nunca loiras, que iam sempre para minha irmã mais velha. Quando descobri que não havia Papai Noel e quem comprava os presentes eram meus pais, perguntei a minha mãe por que ela nunca havia me dado uma boneca loira. Ela me respondeu que quem gostava das loiras era minha irmã. Por anos esperei alguém que me presenteasse com a “boneca loira” sem que eu precisasse pedir, apenas por me conhecer, apenas por me ver o bastante para saber o que meu coração desejava, sem que fosse necessário gritar.

Por isso fiz disso minha especialidade, cuidar dos outros, pessoas e animais; me faz bem saber que um pouquinho de sache, apenas para dar um aroma a mais na comida, fará minha pequena comer; que fazer tour por pet shoppings para comprar e estocar diferentes marcas e sabores de sache fariam minha gatinha feliz. Ou saber o momento de escrever uma carta para alguém que está longe de casa pela primeira vez há quarenta dias e dizer o quanto essa pessoa é importante, pode fazer a diferença. Mandar uma mensagem no WhatsApp, apoiando alguém que se sente abandonado e dizer que está ali, independente de qualquer coisa, ou outra para outro alguém, dizendo o quanto acredita nela, em sua capacidade e perseverança; simplesmente dizer o quanto ama cada um.

É isso, amar, conhecer e cuidar. Minha missão de vida.

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