zeroum comunicação / Larissa Mundim
É na escuridão profunda que a plateia vivencia uma experiência singular: a observação de um corpo em estado contínuo de metamorfose e transubstanciação. Pela centésima vez, o ator Rodrigo Cunha (Casa 107) performa ESPÉCIE, solo que integra a programação do Palco Giratório 22, na quarta (10/8), às 20 horas, no Teatro SESC Centro, em Goiânia. Dando continuidade à temporada, o grupo segue para Portugal e Espanha, circulando o espetáculo com apoio do Fundo de Arte e Cultura de Goiás.
Identificado com o território das artes da presença, ESPÉCIE é uma performance que ocorre nos limites do teatro imersivo e da dança contemporânea. Com direção de Valéria Braga, teve sua estreia em 2012 e segue surpreendendo o público. Para a diretora, seu conteúdo original tem sido naturalmente ressignificado e agora o trabalho dialoga com o público instigando discussões antirracistas e anticoloniais.
“ESPÉCIE não se define, segue em movimento, fala daquilo que escapa e permeia as camadas do tempo”, ressalta Braga. Segundo ela, vozes muitas vezes inaudíveis e corpos invisibilizados reivindicaram presença em cena, durante o processo criativo. A diretora lembra que o animal, a mulher, o velho habitam o espetáculo desde o seu nascedouro e que, neste momento sociocultural, suas demandas ficaram mais explícitas, instigando o debate acerca de silenciamentos históricos e dissidências.
Para o coreógrafo e pesquisador Kleber Damaso, responsável pela pesquisa sobre as dramaturgias do corpo e do movimento deste trabalho, em ESPÉCIE o performer-criador é impulsionado a protagonizar, seja por sua potencialidade ou vulnerabilidade extremas. “Existe a compreensão provisória de que os corpos, assim como a vida, são, por natureza, imprecisos, moventes e transformacionais”, reforça ele, apostando na impermanência como um dos elementos mais potentes da obra.
Sem abrir mão de sua atmosfera radicalmente intimista, ESPÉCIE se manteve em cartaz por 10 anos, percorrendo uma diversificada jornada, com três amplas circulações nacionais por meio do Palco Giratório do Sesc, do Prêmio Funarte de Teatro Myriam Muniz e do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. De lá pra cá, a Casa 107 realizou também adaptação cuidadosa e arriscada para o exigente público infantil e promoveu o diálogo junto a plateias com deficiência visual e auditiva, entre outras comunidades.
Tais experiências foram possíveis porque ESPÉCIE não se ampara em um texto, o espetáculo se orienta pelo corpo em estado fluido. Assim, para todas as plateias, independente de nacionalidade, faixa etária, limitações sensoriais o espetáculo é um convite para a observação sutil da passagem do tempo − passado e presente de maneira intermitente. “Como o trabalho é visual e não oral, fica amplamente aberto para interagir com diversos públicos, sem barreiras”, avalia Rodrigo Cunha.
Agenda
Para o Palco Giratório 22, a performance de ESPÉCIE está programada para a quarta (10/8), às 20 horas, para até 50 pessoas, no teatro Sesc Centro. O mesmo programa prevê o debate on-line, “Dramaturgias em confinamento: reflexões sobre o processo de construção dos experimentos virtuais”, com Grupo Magiluth (PE) e Casa 107 (GO), via Plataforma Teams, na terça (9/8), às 20 horas. O intercâmbio entre os dois grupos será aprofundado em um segundo encontro virtual, sobre a apresentação de ESPÉCIE, na quinta (11/8), às 17 horas, também via Teams.
Em seguida, a Casa 107 viaja com ESPÉCIE para Portugal e Espanha. Entre as diversas atividades de intercâmbio que serão realizadas, o espetáculo irá compor a programação do festival de dança contemporânea El fin de los días perdidos, em Zaragoza, e do festival de performance Temps D’Images, que tradicionalmente ocupa os centros culturais do Bairro Alto, na cidade de Lisboa.
Estas ações compõem o projeto de manutenção do grupo e da equipe da Casa 107, apoiado do Fundo de Arte e Cultura de Goiás. Na primeira etapa dos trabalhos, o grupo realizou oficinas, debates e apresentações com o intuito de compartilhar processos artísticos e culturais com a comunidade surda. Para tanto, o ator Rodrigo Cunha e a diretora Valeria Braga contaram com a mediação do intérprete de Libras, Vinny Batista. As atividades foram gravadas e editadas em audiovisual por Nico Gualtiere. “Esta etapa inicial fortalece as proposituras do projeto como ato e gesto de abertura, além de aproximar da complexidade do tema políticas públicas e acessibilidade”, ressalta Valéria Braga.
SERVIÇO
Palco Giratório 22
09/08 (terça)- Debate on-line: Pensamento giratório: “Dramaturgias em confinamento: reflexões sobre o processo de construção dos experimentos virtuais”, com Casa 107 (GO) e Grupo Magiluth (PE). Transmissão: via plataforma Teams
10/08 (quarta)- Apresentação de ESPÉCIE, às 20 horas, Teatro SESC Centro (Rua 15, Centro, Goiânia). Classificação indicativa: 14 anos. Lotação: 50 pessoas
11/08 (quinta)- Debate on-line sobre a apresentação de ESPÉCIE: Intercâmbio entre Casa 107 (GO) e Grupo Magiluth (PE). Transmissão: via plataforma Teams