*por Paulo Fernandes para rockontro.org
“SINFONIA Nº 9” DE LUDWIG VAN BEETHOVEN
A primeira vez que ouvi a última sinfonia de Beethoven – e no caso só o quarto movimento: o da “Ode à Alegria” – foi em um disco do maestro argentino Waldo de los Rios. Esse disco pertencia ao Aelson, amigo do meu irmão. Pode-se até criticar que o maestro, já falecido, fazia uns arranjos pop para obras de música clássica – que incluíam bateria, guitarra e baixo elétricos – porém, no meu caso, este álbum me incentivou a pesquisar mais a fundo o fascinante universo da música de concerto.

Capa da edição nacional do álbum “Sinfonias” de Waldo de los Rios.
Acontece que a “Nona” era a mais extensa das nove sinfonias do mestre de Bonn, e só era vendida em álbuns duplos, que eram duas vezes mais caros. O jeito para aplacar minha sede sinfônica foi gravá-la em fita cassete. Aí tinha outro problema: as fitas mais comuns, as C60, comportavam 60 minutos e a gravação do maestro Herbert von Karajan para a sinfonia durava 74 minutos. Resultado – e que me perdoem os puristas! – eu cortei o terceiro movimento, que é o movimento lento. Mais para frente eu arranjei uma C90 e pude gravar a obra inteirinha, sem cortes!
A partir daquele primeiro contato, a “Nona” esteve presente em minha vida em diversos momentos, quase sempre felizes. Lembro-me da abertura da Copa do Mundo de Futebol de 1974, na Alemanha Ocidental, em que a “Ode à Alegria” foi cantada por um coral que a minha memória registrou como magnífico.

Walter – hoje Wendy – Carlos e sua parafernália eletrônica
Outro momento marcante foi quando eu assisti ao filme “Laranja Mecânica”, de Stanley Kubrick, pela primeira vez, em 1978, e a “Ode à Alegria” aparece num arranjo eletrônico arrepiante feito pela Wendy Carlos, que quando da gravação ainda era homem e chamava-se Walter Carlos. De quebra o filme ainda tem duas versões diferentes para o segundo movimento, o movimento de dança, uma com orquestra convencional e outra num arranjo eletrônico angustiante – apelidado de “scherzo do suicídio” – de Wendy Carlos.
Para não me delongar mais, já que são tantos os bons momentos e versões diferentes desta obra impar, registro aqui a reinterpretação matadora do grupo Sepultura. Em seu álbum “A-Lex”, baseado no livro “Laranja Mecânica, de Anthony Burgess, a banda brasileira interpreta uma versão rock pesado da “Nona” de nos deixar de queixo caído.

Sepultura em 2009, ano de lançamento do álbum “A-Lex”