Patricia Finotti

Ensinar um segundo idioma para crianças em seus primeiros anos de vida está ganhando força no Brasil. Especialista da rede The Kids Club, Sylvia de Moraes Barros, dá a dica

Hoje, Sylvia de Moraes Barros (foto), educadora que trouxe o método The Kids Club ao Brasil há mais de 20 anos, fala sobre a dificuldade de ensinar por meio de brincadeiras e o efeito do ensino especializado: o real aprendizado – e não a simples brincadeira.
Dúvida: Seu filho está aprendendo inglês ou só brincando?
Sylvia de Moraes Barros: Ninguém mais duvida das vantagens e dos benefícios que o aprendizado na infância trazem. Você já deve ter visto, e achado absolutamente normal, escolas de educação infantil oferecerem aulas de inglês a partir dos 3 anos como parte de sua programação, e cursos de inglês abrirem cada vez mais suas portas para os pequenos. O “boom” de escolas de educação bilíngue que temos visto nos últimos anos também ajuda a comprovar a maior conscientização de pais e educadores para importância de se começar cedo.
Hoje, portanto, nossas crianças já estão começando a aprender inglês desde pequenas. Assim, elas podem usufruir dos benefícios de adquirir o novo idioma com as facilidades características da idade. Questão resolvida, certo? Nem tanto.
Convido-o a explorar um pouco mais a fundo como estas aulas de inglês tem sido conduzidas. Você já prestou atenção na metodologia utilizada pela escola infantil ou pelo curso de inglês do seu filho? Se pesquisar um pouco, é muito provável que encontre as expressões: método lúdico ou aprender brincando. Afinal, o que realmente isso quer dizer?
Os dicionários definem a palavra lúdico como sendo “referente a, ou que tem o caráter de jogos, brinquedos e divertimentos”1. Portanto, método lúdico significa que o aluno brinca e se diverte em sala de aula. Mas, será que ele realmente aprende?
Existe uma tênue e perigosa linha entre aprender brincando e simplesmente brincar. Brincar é se divertir, com o único e exclusivo objetivo de entreter-se. Quando criança está brincando, ela inventa suas próprias regras, e o resultado da brincadeira é simplesmente a diversão. A criança usa sua capacidade criativa para se divertir.
Aprender através da brincadeira, por outro lado, envolve um principal elemento que a brincadeira pura de criança não tem: o objetivo de passar um conceito novo à criança, de forma suave e prazerosa. Ensinar por meio da brincadeira é, ao contrário do que possa parecer, muito mais difícil do que simplesmente ensinar, da forma tradicional.
Quando ensinamos algo da forma tradicional a um adolescente ou a um adulto, expomos o que queremos ensinar, e cabe ao aprendiz decidir se aprenderá aquilo ou não. O aprendizado é totalmente consciente e depende única e exclusivamente de quem está aprendendo. A missão do professor, que é também o grande segredo de ensinar jovens e adultos, é facilitar este aprendizado, provocando o interesse do aluno pelo que é exposto. Mas, quem decide se vai aprender ou não é sempre o aluno. A motivação vem do aluno, esteja ele precisando daquele conceito para a vida profissional, para passar em um exame, para fazer uma viagem ou para conseguir realizar aquilo que sempre quis. Se, por outro lado, não houver motivação, interesse ou a vontade consciente, o aprendizado simplesmente não ocorre.
Analisando o aprendizado infantil, nos vemos diante de um mundo totalmente diferente, novo e intrigante: o mundo do aprendizado inconsciente. A criança não decide o que quer aprender. A criança não tem censura, não tem bloqueios, não tem a consciência do aprendizado. A criança simplesmente absorve o que lhe é exposto, desde que, é claro, esta exposição seja feito da maneira apropriada. É aí que entra o famoso aprendizado lúdico. Crianças gostam de brincar e se sentem bem o fazendo. Nada melhor então do que usar a brincadeira como um veículo para o aprendizado! Mas, cuidado! O professor precisa ter plena consciência do que está fazendo para não transformar tudo numa simples brincadeira.
Então, vamos lá. Por que usamos brincadeiras nas aulas de inglês? Por várias razões, a principal delas sendo os dois sentimentos chaves que PRECISAM existir para que qualquer aprendizado ocorra: motivação e interesse. Já experimentou perguntar a uma criança de quatro anos por que ela aprende inglês? Você provavelmente terá duas respostas: “não sei” ou “porque é legal”. A segunda resposta indica que o método utilizado está sendo realmente eficiente, pois está motivando-a através de atividades prazerosas a aprender. A criança gosta da aula, por isso se deixa envolver e, assim, aprende. Quanto à primeira reposta… acho que você pode tirar suas próprias conclusões.
As teorias de aprendizado de línguas mostram que todo indivíduo possui algo que chamamos de “filtro afetivo”, ou seja, quanto mais o aluno é atingido emocionalmente pelo que está sendo ensinado, mais ele se abre para o aprendizado. Em outras palavras, quanto mais ele gosta e se sente bem, mais aprende. Está aí a primeira razão para usarmos brincadeiras no ensino de inglês para crianças: as brincadeiras fazem com que a criança goste da aula e esta é a motivação de que elas precisam para aprender. Crianças motivadas estão totalmente abertas ao aprendizado.
Brincadeiras também têm o poder de manter a criança interessada, outro ponto chave no processo de aprendizagem. Crianças se interessam por jogos, brincadeiras e desafios, e com isso se envolvem de corpo e alma no que estão fazendo. É aqui que entra o aprendizado inconsciente. Um método de ensino de inglês para crianças só funcionará se souber envolver seus alunos de forma que aprendam “sem perceber”. Este é o grande segredo!
Mas, como fazer isso? Para o professor, as brincadeiras tem que ter um claríssimo objetivo. O professor só deve propor uma atividade, um jogo, ou um desafio se tiver plena consciência do que quer conseguir com aquela atividade. Pode ser um jogo de apresentação de novo vocabulário, ou um jogo que provoque a comunicação em inglês, ou ainda um jogo que mostre o significado das palavras. Tudo pode, desde que o professor saiba qual o objetivo, e desde que saiba conduzir a classe para que alcance este objetivo. Na visão do aluno, ele estará simplesmente brincando, e seu objetivo será ganhar o jogo, ou vencer o desafio proposto. E, se para isso, ele tiver que usar aquilo que está aprendendo, ele o fará sem dificuldades, sem travas, sem medos. Melhor que isso, sem perceber! Dá-se então o aprendizado natural, inconsciente, mais eficiente, e a mais gostosa forma de aprender.
Aprender brincando é o melhor que pode acontecer à uma criança. Já ensinar brincando é coisa séria, que requer muito preparo, conhecimento e experiência, pois um simples detalhe não visto ou não previsto pode por tudo a perder. (Em Pauta Comunicação )

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