Patricia Finotti

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 35 milhões de brasileiros sofrem com algum tipo de problema de visão e cerca de 500 mil tiveram o diagnóstico de cegueira. O realidade desapontadora, apurada em 2016, poderia ser diferente se o acesso ao oftalmologista fosse maior. De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), 80% dos problemas poderiam ser resolvidos com uma consulta simples ao especialista no tempo correto.

“Muitas doenças são silenciosas e, na ausência de uma avaliação feita por especialista em sua fase inicial, elas só são detectadas quando estão avançadas e com sequelas”, diz o médico oftalmologista Henrique Rocha, diretor clínico da Olha! Clínica Oftalmológica  que, neste sábado, 1º de setembro, promove uma ação educativa para a população de Senador Canedo.

Uma cabine batizada como Teste Sua Visão estará disponível no Senador Center para incentivar crianças e adultos a fazerem leitura à distância, leitura com um dos olhos tampados e, assim, ter um indicativo de sua porcentagem de visão não corrigida. “Não se trata de uma consulta, mas é um exame simples para o usuário perceber possíveis dificuldades visuais”, explica o médico. A ação acontecerá de 9h às 13h, será gratuita e marca a inauguração da clínica na cidade que está em desenvolvimento e ainda não contava com um centro especializado em saúde ocular.

Ele considera que o teste é uma forma de compartilhar informação e gerar a conscientização sobre a importância da prevenção, especialmente no contexto em que a falta de acesso ao especialista ainda é realidade para muita gente.  De acordo com o último Censo Oftalmológico realizado pelo CBO, Goiás possui um oftalmologista para cada 19.556 habitantes, abaixo da recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que é de um médico para cada 17 mil habitantes.

Ele observa que a cabine é um protótipo simples que pode ser inclusive reproduzido em escolas para se perceber possíveis que algo está fora dos parâmetros e, a partir de então, descobrir o que está acontecendo com ajuda de um especialista.  “Erros de refração, como é a miopia e hipermetropia, são responsáveis por 20% do baixo rendimento estudantil e podem ser tratados”, informa o médico, que lembra ainda que o uso excessivo de smartphones e tablets também tem gerado um aumento importante das miopias na infância.

Por meio do teste, é possível, por exemplo, identificar sinais da ambliopia, deficiência da visão em um ou em ambos os olhos, sem que eles apresentem anomalias estruturais, que ocorre durante o período de maturação do sistema nervoso central. Também conhecida como ‘olho preguiçoso’, normalmente acontece durante primeira infância e podem ser revertida até 10 anos. “Até essa idade,  a criança desenvolve sua visão cerebral e há alternativas de correção por meio do uso de óculos, de cirurgia ou outras profilaxias. Mas, após essa fase, ele torna-se irreversível e os baixos níveis da visão permanecem”, diz.

Independente do teste, Henrique Rocha, que é o diretor clínico da Clínica Olha, reitera que ela não deve substituir uma consulta, onde o especialista tem condições de aprofundar a análise dos sinais encontrados e fazer um diagnóstico correto. “Além disso, em todas as idades, podem surgir problemas na visão sem sintomas, que podem  causar até cegueira em estágio avançado. Mas, se detectados precocemente, podem ser tratados e interromper sua evolução”, diz. A recomendação do CBO é que as consultas devem acontecer anualmente.

Um exemplo de doença silenciosa é o glaucoma. “Essa é principal causa de cegueira irreversível no mundo justamente por não apresentar sintomas. A pessoa não percebe o problema enquanto ele evolui progressivamente até causar uma lesão irreversível do nervo e levar à perda total da visão”, explica ele, que é membro da Sociedade Brasileira de Catarata e Refrativa e das Sociedades Americana e Européia de Catarata e  Refrativa e da Sociedade Brasileira de Glaucoma.

Ele lembra ainda que, na puberdade, é frequente a manifestação do ceratocone, doença genética cujos sintomas iniciais não são evidentes e que pode causar cegueira em estágio avançado. “Geralmente, o paciente também tem quadro alérgico, que causa coceira, sendo necessário exames precisos e sofisticados para se fazer o diagnóstico”, observa. (Lorena Lázaro)

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