E aí, você já fez sua caridade hoje?

Marilda Rodovalho (@relatosdeumcoracaobipolar)
Mestre em Linguística Aplicada, pela UFG e graduada em Letras pela mesma universidade. Professora de língua portuguesa, inglesa e espanhola no ensino fundamental e médio, português instrumental e língua portuguesa na UEG em convênio com a Academia de Polícia Militar de Goiás.
Participou da equipe de elaboração do currículo de língua portuguesa da Secretaria de Estado da Educação de Goiás, bem como da elaboração de material didático pedagógico distribuído à rede.
Ama viajar, ler, ouvir música e estar com seus animais de estimação e companheiros fieis.

Uma vez, conversando com uma amiga, perguntei a ela o que entendia por caridade. Prontamente me respondeu que caridade é ajudar aqueles que necessitam, dando-lhes abrigo, comida e o que mais precisarem. Creio que é assim que a maioria das pessoas pensa e um pequeno numero delas faz. Mas discordo, ou pelo menos não concordo completamente.

Caridade para mim vai muito além da comida e do abrigo; para mim, caridade tem a ver com acolhimento, aceitação, respeito e tudo o que isso implica. De pouco adianta sair pela ruas distribuindo cobertores e pratos de comida a desconhecidos, se você não é capaz de olhar para as pessoas próximas a você e sentir a dor ou o sofrimento de um amigo, o desespero de um irmão que necessitam de conforto, de alguém que lhes estenda a mão, que os ouça e lhes diga que tudo ficará bem.

Muitas pessoas fazem caridade da porta de suas casas para fora, mas não conseguem sentir o que se passa lá dentro; são incapazes de perceber os conflitos e as dores individuais daqueles que os cercam, e assim não há acolhimento, não há caridade. Porque acolher o outro em sua dor, ampará-lo em um momento de desespero, mesmo que seja apenas para ouvi-lo, para abraçá-lo e deixá-lo saber que não está só, isso também é caridade.

Aqueles mesmos que levam cestas de comida a abrigos e saem com suas consciências tranquilas por estarem fazendo sua parte, sendo, assim caridosos, muitas vezes são os que se mostram intolerantes e preconceituosos diante de tudo o que não seja como eles, por raça, gênero, opção sexual ou até política. Fincam os pés em suas crenças e não conseguem ver que somos todos diferentes, mas que no fundo somos todos iguais, filhos do mesmo Deus. Então, respeito também é caridade.

Caridade não é algo fácil de se fazer porque implica em estarmos prontos a nos despirmos de nossos preconceitos, ou pelo menos deixá-los de lado e dessa forma sermos capazes de respeitar o outro e aceitá-lo como ele é; mesmo não concordando com a pessoa que ele é, mas sabendo que é seu direito ser como desejar. Caridade é acolher o outro e para isso precisamos estar atentos não apenas ao nosso próprio umbigo, mas às pessoas a nossa volta, conhecê-las, saber diferenciar quando sorriem sinceramente ou apenas disfarçam uma dor escondida.

Para mim, caridade é antes de tudo, amor ao próximo, o amor que me permite respeitá-lo, acolhê-lo e aceitá-lo, que me permite ver nele alguém com o mesmo direito à vida, à felicidade que eu. Reconhecer no outro parte de mim, porque, afinal, somos feitos da mesma poeira cósmica que deu origem a tudo o que existe; somos iguais em sangue, carne e ossos.

E aí, você já fez sua caridade hoje?

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