Uma vez, conversando com uma amiga, perguntei a ela o que entendia por caridade. Prontamente me respondeu que caridade é ajudar aqueles que necessitam, dando-lhes abrigo, comida e o que mais precisarem. Creio que é assim que a maioria das pessoas pensa e um pequeno numero delas faz. Mas discordo, ou pelo menos não concordo completamente.
Caridade para mim vai muito além da comida e do abrigo; para mim, caridade tem a ver com acolhimento, aceitação, respeito e tudo o que isso implica. De pouco adianta sair pela ruas distribuindo cobertores e pratos de comida a desconhecidos, se você não é capaz de olhar para as pessoas próximas a você e sentir a dor ou o sofrimento de um amigo, o desespero de um irmão que necessitam de conforto, de alguém que lhes estenda a mão, que os ouça e lhes diga que tudo ficará bem.
Muitas pessoas fazem caridade da porta de suas casas para fora, mas não conseguem sentir o que se passa lá dentro; são incapazes de perceber os conflitos e as dores individuais daqueles que os cercam, e assim não há acolhimento, não há caridade. Porque acolher o outro em sua dor, ampará-lo em um momento de desespero, mesmo que seja apenas para ouvi-lo, para abraçá-lo e deixá-lo saber que não está só, isso também é caridade.
Aqueles mesmos que levam cestas de comida a abrigos e saem com suas consciências tranquilas por estarem fazendo sua parte, sendo, assim caridosos, muitas vezes são os que se mostram intolerantes e preconceituosos diante de tudo o que não seja como eles, por raça, gênero, opção sexual ou até política. Fincam os pés em suas crenças e não conseguem ver que somos todos diferentes, mas que no fundo somos todos iguais, filhos do mesmo Deus. Então, respeito também é caridade.
Caridade não é algo fácil de se fazer porque implica em estarmos prontos a nos despirmos de nossos preconceitos, ou pelo menos deixá-los de lado e dessa forma sermos capazes de respeitar o outro e aceitá-lo como ele é; mesmo não concordando com a pessoa que ele é, mas sabendo que é seu direito ser como desejar. Caridade é acolher o outro e para isso precisamos estar atentos não apenas ao nosso próprio umbigo, mas às pessoas a nossa volta, conhecê-las, saber diferenciar quando sorriem sinceramente ou apenas disfarçam uma dor escondida.
Para mim, caridade é antes de tudo, amor ao próximo, o amor que me permite respeitá-lo, acolhê-lo e aceitá-lo, que me permite ver nele alguém com o mesmo direito à vida, à felicidade que eu. Reconhecer no outro parte de mim, porque, afinal, somos feitos da mesma poeira cósmica que deu origem a tudo o que existe; somos iguais em sangue, carne e ossos.
E aí, você já fez sua caridade hoje?