ESTREIA espetáculo ADOBE (dança) – Apresentação única

Grupo Solo de Dança – Luciana Caetano – 2019 (créditos: Cida Carneiro)

Depois de uma pausa de criações de pouco mais de dois anos, Luciana Caetano, primeira aluna negra de balé em Goiânia e fundadora do Grupo Solo de Dança, faz apresentação única no Teatro SESC Centro. O espetáculo “Adobe” terá sua estreia no dia 07 de março, 5ª feira, às 20h. Com uma obra carregada de simbolismos, Luciana levará ao público os cenários que ela traz dentro dela, das vidas das mulheres de sua família e de suas histórias, de memórias físicas, sociais e emocionais que delineiam a existência destas matriarcas. A montagem reverencia esse legado de sabedoria, força, delicadeza e amor familiar. Os valores dos ingressos são os mesmos praticados pelo Teatro Sesc Centro: R$ 8 (trabalhadores do comércio e dependentes); R$ 10 (Conveniados); R$ 11 (Meia-entrada); R$ 22 (inteira).

ADOBE

Ancestral do tijolo de barro, o tijolo de adobe pertence à história brasileira tanto quanto os corpos negros que construíram a arquitetura deste país. Base das paredes largas das casas grandes e senzalas, o adobe é peça de alvenaria rudimentar, resistente e confortável para os sentidos, feita de terra, água e fibra. Solitário, o adobe não cria estruturas, mas unido a peças iguais, criam lares e comunidades.

Assim é a analogia criada pela coreógrafa Luciana Caetano, quando decide dar o nome de “Adobe” ao seu novo espetáculo solo de dança, que na verdade vem sendo criado dentro do seu corpo há bastante tempo. A obra é uma reverência às mulheres ancestrais da intérprete/criadora e a tudo que a bailarina traz em seu corpo e sua alma que é herdado desse matriarcado. A mulher enquanto esteio de gerações. A mulher que é base de famílias e sociedades. A mulher que gera, que protege, que cerca, que abriga, resguarda e acolhe.

Sobre esse processo criativo, Luciana explica: “Esse é um espetáculo com o qual já estou às voltas há algum tempo. Eu estou impregnada dele, mesmo antes dos ensaios e de toda a criação, justamente por se tratar das minhas ancestrais me inspirando. Mulheres negras que são as minhas referências. Coloco em cena as coisas que eu herdei delas, tudo delas que marcou a minha vida. E com este trabalho eu acabo falando também das mulheres negras em geral desse país. Porque são assuntos em comum: quantas avós negras que são chefes e arrimos de família? Quantas são as mães negras que sozinhas criam seus filhos? Então, no nosso mundo negro, essa realidade é que é. As mulheres é que tomam conta dos seus filhos e das suas famílias praticamente inteiras. Elas são os esteios, o Adobe dessa sociedade.”

A força que cria arte

As travessias enfrentadas pela criadora Luciana, que se profissionalizou e viveu toda a sua vida através da dança contemporânea, do jazz, do balé clássico, e que passou por grupos como o Energia, de Julson Henrique, e a Quasar Cia de Dança, de Henrique Rodovalho, também é algo que o espetáculo “Adobe”, simbolicamente traz para a cena. Ao completar 50 anos, a bailarina e coreógrafa ressalta a importância de estar presente no palco, mesmo em uma idade que muitos a aconselhariam a parar. Com a criação de “Adobe”, Luciana reforça que a arte não depende de tipos físicos, condições sociais ou idade, e reforça: “Acho que sou uma das poucas nessa idade, em Goiânia, que ainda se colocam cena. É claro que não é mais a dança de um corpo de 20 anos, mas é a dança de um corpo de 50, que conta outras histórias, que se move de outras formas e cria outras reflexões.”

Sobre o corpo negro na dança

Assustadoramente, somente 200 anos depois das brancas é que surgiram sapatilhas para bailarinos/as negros/as. Até aqui, bailarinas/os negras/os tingiam ou pintavam os sapatos com maquiagem, para combinar com seu tom de pele. Esta é uma notícia publicada no final do ano passado (2018) que pode ser encontrada facilmente em veículos de imprensa de todo o Brasil.

A citação é mais uma referência para a força que Luciana Caetano traz em si própria e que é herdada destas mulheres guerreiras que a antecederam em sua linhagem familiar. A falta de reconhecimento da diversidade étnica nas artes não é novidade na vida da bailarina Luciana Caetano, que aos 6 anos de idade foi uma das primeiras meninas negras a ser matriculada em escola de balé clássico em Goiânia. Sobre isto, Luciana comenta que se sente uma privilegiada, por ter podido contar com pais que souberam defender posições e brigar por espaços iguais para seus filhos, mas ela enfatiza que a situação segue sendo gritante, principalmente em nossa capital, que é uma cidade extremamente racista.

Sobre Luciana Caetano

Bailarina, Coreógrafa, Professora de Dança e especialista em Pilates, membro do Fórum de dança de Goiânia, membro do Colegiado Nacional de Dança. Diretora, coreógrafa residente e fundadora do Grupo Solo de Dança e do Grupo Contemporâneo de dança.

Natural de Goiânia, iniciou seus estudos em dança no ano de 1975. De 1985 a 1990 integra o Grupo de Dança Energia convidada por Julson Henrique. Já entre os anos de 1989 e 1999 integra a Quasar Cia de Dança, participando de todas as turnês nacionais e internacionais deste período. Em 1996 funda o Grupo Solo de dança no qual atua como coreógrafa e bailarina. Formada em Geografia, pela Universidade Federal de Goiás em 1992, Luciana Tem desenvolvido diversos trabalhos ligados a dança contemporânea e às artes cênicas no estado de Goiás e no Brasil.

Concebeu e coreografou os seguintes espetáculos: 1997 “Enquanto se Espera” (primeira versão), 1998 “Preto no Preto”, 1999 “Obliquação”, 2000 “Terra Cruz” e “Saúri-nhõre”, 2003 “Parceiros da Rua”, 2004 “Mulheres”, 2006 “Enquanto se Espera” (versão infantil), 2008 Cerratenses, 2015 “Cartas de Frida”. (Ana Paula Mota)

Serviço:

Estreia do espetáculo “ADOBE” – solo de dança contemporânea, de Luciana Caetano

Data e horário: 07 de março – 5ª feira – 20h

Local: Teatro Sesc Centro (Rua 15, esquina com Rua 19, Centro – Tels: (62) 3933 1714 ou 3933 1711

Ingressos: R$ 8 (trabalhadores do comércio e dependentes); R$ 10 (Conveniados); R$ 11 (Meia-entrada); R$ 22 (inteira).

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