Funarte lança obras teatrais de Plínio Marcos

Coleção inédita com seis volumes reúne as últimas edições das peças do autor de Dois perdidos numa noite suja e Navalha na carne

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A Fundação Nacional de Artes – Funarte lança, no dia 5 de setembro, terça-feira, às 19h30, a coleção de livros Plínio Marcos – obras teatrais, na Livraria da Travessa – Shopping Leblon, Rio de Janeiro. É uma coletânea inédita de peças, em seis volumes, editada com a última revisão de conteúdo feita pelo dramaturgo. Para essa edição foram selecionados os 29 textos concluídos pelo autor – dez deles publicados pela primeira vez.

Nos seis volumes estão textos consagrados, como Navalha na carneDois perdidos numa noite sujaO Abajur lilás Quando as máquinas param. O organizador da publicação é do crítico e professor de literatura da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Alcir Pécora. Ele acrescentou a cada livro análises dos textos de Plínio Marcos. No lançamento, o ensaísta fará uma apresentação da coletânea, no auditório da livraria.

Fotos, cartazes, imagens de textos escritos à mão pelo dramaturgo e outras curiosidades – como ingressos teatrais – ilustram a obra. Essa iconografia tem a assinatura de Ricardo Barros, filho de Plínio. A atriz, ex-esposa do autor teatral e mãe de seus três filhos, Walderez de Barros, estabeleceu a versão final das peças.

Cada um dos volumes foi definido com base numa linha temática principal, “distinta em termos de significação e de composição, a ponto de ser possível destacá-la no conjunto da obra…” – explica o organizador. O Volume 1, Atrás desses muros, reúne as peças cujas personagens encontram-se na prisão. O segundo livro, Noites sujas, mostra personagens sem ocupação ou subempregados, no limite da sobrevivência nas grandes cidades. O Volume 3, Pomba roxa, reúne as peças que giram em torno da figura da prostituta. A quarta publicação, Religiosidade subversiva, traz as peças que o próprio autor reuniu num livro, com esse tema e com o mesmo título – e mais o texto O homem do caminho. O Volume 5, No reino da banalidade, reúne textos em que se destaca a descrição dos “hábitos pequeno-burgueses” – crítica, cômica ou tragicômica. Já o sexto título,Roda de samba/Roda dos bichos, apresenta o teatro musical e também a obra infantil de Plínio Marcos – leia a descrição completa de cada título abaixo.

O objetivo da coleção Plínio Marcos – obras teatrais é dar ao público uma versão “absolutamente confiável” das peças do dramaturgo – baseada sempre na última modificação feita por ele próprio. “Um autor da grandeza de Plínio Marcos tem o direito de ter o conjunto da sua obra publicada de maneira correta e fidedigna”, comenta Alcir Pécora. “Outro critério universal adotado foi o de apenas publicar, neste momento, as peças cujos originais, ou mesmo cópias, constassem do acervo de forma íntegra, e dadas como finalizadas pelo próprio Plínio Marcos”, destaca o estudioso “A convicção que animou todos os esforços necessários para o preparo da atual edição foi a de introduzir a obra de Plínio Marcos no âmbito de um repertório cultural atuante no século XXI”, conclui.
Sobre Plínio Marcos

Plínio Marcos (Santos – SP, 1935 — São Paulo – SP, 1999), foi palhaço, camelô, ator, dramaturgo, diretor teatral e escritor. Escreveu 31 peças – quatro delas inacabadas –, além de outros textos literários, e foi ator. Peças suas foram traduzidas, publicadas e encenadas em francêsespanhol,inglês e alemão – parte delas adaptada para cinema e TV. Recebeu oito prêmios Molière de melhor autor, por Navalha na Carne e Dois Perdidos Numa Noite Suja e outras obras – entre as 37 premiações que ganhou.Também foi um atuante jornalista.
Após 1968, o teatro de Plínio Marcos era sistematicamente censurado.Navalha na carne Dois perdidos numa noite suja, mesmo depois de apresentadas em diversas regiões do Brasil, foram interditadas em todo o país. Foi preso pelo Exército, e liberado, dias depois, por interferência de um amigo influente. Em 1969, foi para a cadeia de novo, porque não acatou a interdição de Dois perdidos numa noite suja, em que trabalhava como ator; e libertado, por interferência de vários artistas. Foi detido ainda várias outras vezes, para interrogatório. Era considerado “maldito” pela ditadura militar e por quem a apoiava. “De repente, todas as minhas peças foram proibidas. Por quê? […]. Há 17 anos [1973]pago o preço de nunca escrever para agradar aos poderosos [..]. A solidão, a miséria, nada me abateu, nem me desviou do meu caminho de crítico da sociedade, de repórter incômodo e até provocador. Eu estou no campo. Não corro. Não saio. E pago qualquer preço pela pátria do meu povo”, desabafou Plínio Marcos.

Sua dramaturgia é marcada por essa perseguição política e pela censura, que, por mais implacável que fossem, não fizeram com que ele desistisse. Ao contrário: quando não pode mais produzir, dirigir e atuar, produziu contos, novelas, reportagens e crônicas, muitas delas publicadas nas páginas de importantes jornais e revistas do país (Última HoraVejaFolha de S. Paulo, O Pasquim, Opinião e outros) e foi reconhecido por seu valor. Muito mais foi impresso em edições baratas, feitas pelo próprio autor, vendidas por ele mesmo, na rua e nas portas de teatros e universidades. Intitulando-se “repórter de um tempo mau”, comentou: “Maldito seja eu e que escarrem no meu nome, se algum dia eu deixar de ir ao encontro dos que vêm de mim, por preguiça ou apodrecido pelo sucesso”. Ele falava de seus personagens, sempre retratos de perdedores, encarcerados, perseguidos, desesperançados, famintos e enfermos.

Plínio Marcos faleceu aos 64 anos, em São Paulo, em 1999, após dois derrames e uma infecção pulmonar. Reconhecendo a grandeza única da obra do dramaturgo, em 2001, a sala de espetáculos cênicos da Fundação Nacional de Artes em Brasília passou a ser chamada de Teatro FunartePlínio Marcos.

Sobre Alcir Pécora

É professor titular de Teoria Literária da Unicamp. Como crítico de literatura, publicou vários ensaios. É membro da Accademia Ambrosiana de Milão, junto à Seção Borromaica. Entre outras obras, escreveu Teatro do Sacramento (1994); Máquina de gêneros (2001) e Rudimentos da vida coletiva (2002). É organizador de A Arte de Morrer (1994), Escritos históricos e políticos do Padre Vieira (1995), Sermões I e II (2000-2001); As Excelências do governador (2002); Lembranças do Presente (2006); Índice das Coisas Mais Notáveis (2010); Por que Ler Hilda Hilst (2010). Editou as Obras Reunidas de Hilda Hilst e de Roberto Piva. (FUNARTE)

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