MAM São Paulo apresenta visões da arte indígena contemporânea em mostra inédita

Tartaruga, série Yãmiy/homem-espírito, 2009, Sueli Maxakali
a4&holofote comunicação / Patrícia Marrese

Com curadoria de Jaider Esbell, Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea reúne pinturas, esculturas e obras em diversos suportes de povos indígenas como Yanomami, Pataxó e Guarani Mbya. Exposição é uma correalização entre MAM e Fundação Bienal de São Paulo

 

Até o dia 28 de novembro de 2021, o Museu de Arte Moderna de São Paulo exibe a mostra Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea, coletiva que tem curadoria de Jaider Esbell – artista macuxi convidado da 34ª Bienal. Correalizada entre MAM e Fundação Bienal de São Paulo, a exposição integra a rede de parcerias da 34ª Bienal e conta com assistência curatorial da antropóloga e programadora cultural Paula Berbert e consultoria do professor do departamento de antropologia da FFLCH/USP Pedro Cesarino, e realização pelo Edital ProAC Expresso 09/2020.

Moquém designa a tecnologia milenar utilizada pelos povos indígenas para conservar os alimentos após a caça coletiva e facilitar seu transporte até as aldeias. O título da mostra – Moquém_Surarî – também refere-se à narrativa makuxi sobre a transformação do Moquém em uma mulher que, nos tempos antigos, subiu aos céus à procura de seu dono que a havia abandonado. Uma vez no céu, Surarî se transforma na constelação responsável por trazer a chuva, marcando o fim do mundo e o começo de um novo. A tecnologia de moquear é usada então para refletir sobre a troca e transformação de saberes que atravessam diferentes tempos e espaços- trânsitos que constituem os movimentos da arte indígena contemporânea.

Um dos principais objetivos da curadoria é mostrar ao público que existem outras histórias da arte e não tentar encaixar a arte indígena em uma narrativa canônica. “Queremos reproduzir um estilhaçamento da história da arte e mostrar como esse tipo de relação temporal é cronicamente negado no Brasil, intelectuais indígenas foram rechaçados, seja na arte ou pensamento no Brasil”, afirma Jaider Esbell .

Moquém_Surarî apresenta trabalhos de 34 artistas indígenas dos povos Baniwa, Guarani Mbya, Huni Kuin, Krenak, Karipuna, Lakota, Makuxi, Marubo, Pataxó, Patamona, Taurepang, Tapirapé, Tikmũ’ũn_Maxakali, Tukano, Wapichana, Xakriabá, Xirixana e Yanomami. Segundo Esbell, são obras que corporificam transformações, traduções visuais das cosmovisões e narrativas do corpo de artistas, presentificando a profundidade temporal que fundamenta suas práticas. “As obras atestam que o tempo da arte indígena contemporânea não é refém do passado. A ancestralidade é mobilizada no agora, reconfigurando posições enunciativas e relações de poder para produzir outras formas de encontro entre mundos não fundamentados nos extrativismos coloniais”, reflete Cesarino.

O público vai se deparar com obras em suportes diversos, há desde desenhos criados por artistas como Ailton Krenak – emblemático líder indígena, escritor e filósofo -, Joseca Yanomami, Rivaldo Tapirapé e Yaka Huni Kuin; tecelagens de Bernaldina José Pedro; esculturas de Dalzira Xakriabá e Nei Xakriabá; fotografias de Sueli Maxakali e Arissana Pataxó; vídeo de Denilson Baniwa; gravura de Gustavo Caboco; pinturas de Carmésia Emiliano, Diogo Lima e Jaider Esbell; dentre outros.

Trata-se de um corpo artístico diverso, que une artistas de Roraima que refletem sobre os efeitos políticos e territoriais das invasões pecuárias da região, passando por outros artistas indígenas contemporâneos conhecidos no circuito das artes visuais ocidentais, até artistas que não têm relação com o mercado de arte contemporânea, mestres das práticas xamânicas, como pajés. “São obras que mostram o que são os regimes visuais indígenas, de existências milenares e dos quais a arte indígena contemporânea é tributária”, explica Berbert.

Segundo Cauê Alves, curador-chefe do MAM, “a presença dessa exposição na programação do Museu de Arte Moderna de São Paulo indica uma postura institucional que desconstrói pressupostos coloniais. Moquém_Surarî inaugura um diálogo direto com artistas indígenas que permitirá que o MAM repense e amplie sua política de aquisição de acervo, incluindo grupos étnicos sub-representados ou negligenciados ao longo da história.” E completa, “as narrativas dos descendentes de Makunaimî contadas por eles mesmos, certamente abrem outras perspectivas para além daquelas imaginadas pelos artistas e intelectuais modernistas centrais para fundação do MAM”.

“A mostra Moquém_Surarî não apenas amplia a visibilidade da arte indígena contemporânea, como também sinaliza o interesse do MAM em valorizar a cultura de povos ancestrais que nos últimos 500 anos tem tido sua existência ameaçada”, comenta Elizabeth Machado, presidente do museu.

Sobre o curador

Nascido na região hoje demarcada como a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, Jaider Esbell está entre as figuras centrais do movimento de consolidação da arte indígena contemporânea no Brasil e atua de forma múltipla e interdisciplinar, desempenhando funções de artista, curador, escritor, educador, ativista, promotor e catalisador cultural.

Programação

Além da exposição na sede do MAM, a mostra contará com uma série de depoimentos inéditos em vídeo de sete artistas de Roraima, que serão divulgados ao longo do período expositivo nos canais digitais do museu, como também ampla programação educativa, que contará com oficinas e lives com os artistas sobre assuntos como arte e xamanismo, povos indígenas e a história da arte no Brasil e a força das mulheres indígenas nas artes.
Serviço

Moquém_Surarî: arte indígena contemporânea
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo
Curadoria: Jaider Esbell
Assistência de curadoria: Paula Berbert
Consultoria: Pedro Cesarino
Período expositivo: até 28 de novembro de 2021
Endereço: Parque Ibirapuera (av. Pedro Álvares Cabral, s/nº – Portões 1 e 3)
Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última entrada às 17h30)
Telefone: (11) 5085-1300
Ingresso: Entrada gratuita, com contribuição sugerida. Agendamento prévio necessário.
34ª Bienal de São Paulo

Período: de 4 de setembro a 5 de dezembro de 2021
Local: Pavilhão Ciccillo Matarazzo, Parque Ibirapuera
Entrada gratuita
Equipe curatorial
Curador geral: Jacopo Crivelli Visconti
Curador adjunto: Paulo Miyada
Curadores convidados: Carla Zaccagnini, Francesco Stocchi e Ruth Estévez
Editora convidada: Elvira Dyangani Ose, em colaboração com The Showroom, London

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