Pirilampos

Marilda Rodovalho (@relatosdeumcoracaobipolar) Mestre em Linguística Aplicada, pela UFG e graduada em Letras pela mesma universidade. Professora de língua portuguesa, inglesa e espanhola no ensino fundamental e médio, português instrumental e língua portuguesa na UEG em convênio com a Academia de Polícia Militar de Goiás. Participou da equipe de elaboração do currículo de língua portuguesa da Secretaria de Estado da Educação de Goiás, bem como da elaboração de material didático pedagógico distribuído à rede. Ama viajar, ler, ouvir música e estar com seus animais de estimação e companheiros fieis.Antes mesmo de saber o que as palavras ansiedade e depressão significavam, já as tinha como companheiras, o que acabou por desencadear minha primeira crise de enxaqueca aos sete anos de idade; se contar que hoje cheguei aos cinquenta e sete, lá se vai meio século. Será que posso entrar para o Guinness?

Bem, a questão é que ao longo da minha vida fui aprendendo a lidar com a dor e os sentimentos que hoje sei estarem ligados. Mas aos sete, ou nove anos, não se tem noção de nada, a não ser da sensação de que algo ruim está sempre à espreita, dos pensamentos horríveis que teimam em habitar a mente, mesmo à noite em forma de pesadelos.

Aí começa o que agora resolvi chamar de meu primeiro milagre. A presença, mesmo que jamais o tenha visto ou falado com ele, do meu Anjo da Guarda, meu Espirito Protetor, ou que nome queiram dar. Mas entendo que somente a presença de um ser iluminado junto a mim, impediu que eu sucumbisse em meio a tantos sentimentos dolorosos que me perseguiam.

Um dia, por volta dos nove anos, caiu em minhas mãos uma folha de jornal, que devia embrulhar bananas ou algo assim; o fato é que desde que aprendi a ler, me tornei viciada em leitura e ainda hoje não consigo resistir a nada que contenha letras, começo logo a buscar nelas o seu significado.

De qualquer modo, a folha de jornal em questão trazia uma entrevista com o acho que seria um psicólogo, não me recordo nem mesmo do seu nome. Mas as ideias, nunca as esqueci. Ele dizia que nosso cérebro pode ser programado, que podemos conscientemente influenciar nosso inconsciente. Assim, se ideias negativas, pensamentos ruins teimam em vir à nossa mente quando estamos “desocupados”, porque não os substituir por pensamentos bons? E sugeria que o modo de fazer isso seria criar uma galeria de imagens, musicas, ideias positivas. Dizia também para não procurarmos por imagens feias, como filmes de terror, ou coisas do tipo, pois essas visões ocupariam nossa mente, o que certamente não queríamos.

Amei a ideia e imediatamente a coloquei em prática, comecei minha coleção de imagens bonitas: flores, pássaros, pequenos animais, momentos felizes, músicas que me fizessem sentir bem. Tudo que pudesse preencher minha mente e substituir os pensamentos que me assombravam. Quanto aos pesadelos, na mesma folha de jornal descobri a solução. Se podemos controlar nosso inconsciente, bastava dizer aos monstros que me perseguiam em sonhos que não eram reais, que aquilo era um sonho e então mudar de sonho ou, se insistissem, dizer bem firme, isso ´não é real, é apenas um sonho e então acordar.

Sei que falando assim parece loucura ou coisa de criança, mas é por isso que chamo esse momento de meu primeiro “milagre”, porque aquela folha de jornal ter caído em minhas mão em um momento que eu não conseguia falar com ninguém sobre o que me assombrava e torturava, foi como se Deus encaminhasse através de meu Anjo da Guarda a solução para minhas dores.de alguma forma, acreditei que era possível e passei a fazer o que aquela pessoa, de quem nem mesmo sei o nome, dizia. Chegando a ouvir de um amigo, anos mais tarde que eu era sem dúvida a pessoa deprimida mais otimista que ele conhecia.

Quando fui diagnosticada com Transtorno Bipolar do Humor há quinze anos e então iniciei o tratamento, história para outro momento, ouvi de minha médica que eu era uma sobrevivente, pois usando meus “recursos” pessoais, havia chegado aos quarenta e cinco anos sem entrar em surto, sem me drogar ou qualquer coisa do gênero.

A verdade é que fui aperfeiçoando minha técnica, me aproximando mais de Deus, conversando com Ele e confiando sempre que me ajudaria quando tudo mais parecesse falhar. Nesses momentos, quando estava pronta para desabar e desistir, pedia a Ele um pequeno presente, uma mensagem que me mostrasse sua presença, um afago de Pai.

Assim fiz minha coleção de pequenos mimos, ou pequenos milagres: meu arco íris, a mensagem de consolo por ocasião da morte de meu pai, a valsa dançada por minha sobrinha e seu padrinho no dia de sua formatura, meu pássaro azul. E ainda essa semana meu show particular de pequenas luzes vistas ao anoitecer no parque em frente a minha casa e que fizeram meu coração sorrir. Vaga lumes com certeza, não busco explicações extraordinárias, mas ainda assim, um espetáculo particular, já que dançavam em trio a uma certa altura e na rua deserta eram observados apenas por mim.

Ah! Como sou grata, Senhor!

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