Saudades, não saudosismo

*** Marilda Oliveira (@relatosdeumcoracaobipolar) – É Mestre em Linguística Aplicada, pela UFG e graduada em Letras pela mesma universidade. Professora de língua portuguesa, inglesa e espanhola no ensino fundamental e médio, português instrumental e língua portuguesa na UEG em convênio com a Academia de Polícia Militar de Goiás.
Participou da equipe de elaboração do currículo de língua portuguesa da Secretaria de Estado da Educação de Goiás, bem como da elaboração de material didático pedagógico distribuído à rede.
Ama viajar, ler, ouvir música e estar com seus animais de estimação e companheiros fieis.

Outro dia fui injustamente “acusada” de ser saudosista, de viver presa ao passado, blasfêmia! Sinto saudades, é verdade do meu tempo de criança, das brincadeiras na rua com os amigos, dos natais, de quando ainda acreditava em Papai Noel e junto com meus irmãos teimava em ficar acordada para vê-lo colocar os presentes ao lado de nossas camas; o que jamais conseguíamos, antes das dez estávamos tombados no sofá e éramos carregados para cama. Como não sentir saudades de uma época tão feliz e de tantas e tão boas recordações?

O que de modo algum significa que eu seja uma pessoa que se prende ao passado. Algo que jamais me verão fazer será comparar os tempos em que era criança e os tempos de agora, dizendo o que meninas e meninos de hoje estão perdendo por não poderem fazer isso ou aquilo, ou que as pessoas naquele tempo podiam se sentar em frente as casas e conversar enquanto hoje ficam trancadas dentro de casa e coisa e tal. Alguém saiu perdendo? Não sei, creio que não, são outros tempos, outros costumes; aquilo que deixamos de fazer foi substituído por alguma outra coisa, ocupando da mesma forma nosso tempo.

O fato é que de modo algum eu trocaria o agora pelo ontem, por mais feliz que tenha sido. O relógio não anda para trás, então, como costumo dizer, “Inês é morta.” Ficar tecendo comparações não nos leva a lugar algum, querer glamorizar um tempo que já não pode ser vivido, tão pouco. Sim, digo glamorizar, porque parece ser o que muitos fazem, tentando mostrar como “naquele tempo” tudo era melhor, como havia mais respeito entre pais e filhos, como a educação era melhor e as pessoas mais decentes e confiáveis.

Mas então, se tudo era mesmo assim? Fico pensando, quem mudou? Que bruxo malvado apareceu com sua varinha e transformou o mundo e a sociedade nesse “caos” que faz com que muitos tanto anseiem pela volta aos velho e bons tempos? Pensando bem, não houve bruxo, não houve varinha, fomos nós que ao longo dos anos, enquanto crescemos e tomamos o lugar de nossos pais na sociedade, decidimos que o jeito como eles viviam e como faziam as coisas não nos servia mais, e resolvemos que daríamos um novo rumo aos nossos filhos, que eles não passariam pelo mesmo que nós. Como assim? Não havia sido tão bom?

Nós decidimos, nós mudamos e criamos essa sociedade que está aí. Ela não nos agrada? Mas é o nosso reflexo. E não adianta querer voltar atrás, não adianta se encher de saudosismo e enviar textos pelo WhatsApp falando de como era maravilhoso antigamente. Precisamos encarar o presente de frente, de olhos e peito abertos. Admitir nossos erros e corrigi-los, enquanto ainda podemos, enquanto ainda temos como. Ou vamos ter que conviver com o mundo caótico que alguns anteveem virá pela frente.

Será? Prefiro pensar que a nova geração fará melhor que nós, ao menos fará diferente, olhando pra frente, como tem que ser.

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